Durante anos vociferaram contra a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Basta fazer uma pesquisa na Internet e recuperar meia-dúzia de notícias e declarações para recordar o que eles pensavam sobre essa instituição.
A este propósito, será bom ler o que escreveu no seu blogue um agora adjunto de Miguel Relvas. Em 28/05/2009, João Gonçalves esclarecia-nos que a ERC era "um corpo esquisito criado pelo governo e pelo dr. Santos Silva" e que "esta ERC é a ASAE dos jornalistas, uma coisa asséptica destinada a "purificar" a mensagem e a punir o mensageiro. O presidente da dita, aliás, podia perfeitamente ter servido o Estado Novo. Tiques como aquele de rejeitar um determinado profissional para lhe fazer uma entrevista suponho que nem ao Dutra Faria devia ocorrer. A ERC não tem autoridade moral para fazer recomendações éticas. É uma excrescência política do PS escondida sob a capa de "entidade reguladora"". Eduardo Cintra Torres, cronista do Público, em 21/08/2007, escrevia, por seu lado, que "a ERC podia perfeitamente chamar-se OMO". O mesmo Cintra Torres, em 04/09/2009, no Público, escrevia que o "PS-Governo de Sócrates não consegue coexistir com a liberdade dos outros" e que "criou uma central de propaganda brutal que coage os jornalistas, intervém nas empresas de comunicação social", "fez da ERC um braço armado contra a liberdade". Manuela Moura Guedes, uma das visadas pelo Governo Sócrates, em comentário a um post do referido João Gonçalves também se queixou da ERC (19/03/2009). No dia seguinte, João Gonçalves publicava no seu blogue um texto de Manuela Moura Guedes em que esta jornalista afirmava, e transcrevo, que "o jornalista tem de ser desconfiado, meter o nariz em tudo, fazer sempre de advogado do diabo, morder as canelas, não ter temor reverencial (tão cultivado neste país), eles estão ali para servir o povo e não para que o povo os sirva a eles ... o jornalista deve descodificar a mensagem política que vende gato por lebre, deve chamar as coisas pelos nomes, sem estar com rodriguinhos que só confundem quem nos vê, deve ter, sim, uma atitude 'contrapoder'". O tal adjunto do ministro Relvas acrescentava, em 08/08/2009, que a "ERC é muito ciosa do respeitinho e do silêncio enquanto bálsamo protector dos cidadãos. Uma protecção equivalente ao nível 63 dos cremes da Ambre Solaire". Já em 30/7/2010, ao transcrever um artigo de Eduardo Cintra Torres, o mesmo João Gonçalves, reafirmava que "a ERC é uma aberração que deve, à semelhança de tantas outras, ser pura e simplesmente removida (como um tumor maligno) da constituição porque, pelos vistos, nem sequer se preocupa excessivamente em a cumprir". Em Junho de 2011, mais exactamente no dia 24, também Paulo Pinto Mascarenhas, num blogue que todos sabem ser alinhado com a maioria e o Governo de Passos Coelho (Cachimbo de Magritte), defendia "a extinção imediata da ERC, que não serve para coisa alguma". Mais tarde, em 14/11/2011, umas das recomendações do Grupo de Trabalho constituído por ordem de Miguel Relvas e que analisou o conceito de serviço público de comunicação social, do qual, entre outros, também Cintra Torres e José Manuel Fernandes faziam parte, foi a de que a ERC devia "ser extinta" e que "as tarefas administrativas e burocráticas igualmente atribuídas à ERC, bem como o seu considerável orçamento de funcionamento, podem e devem ser transferidas para outras entidades do Estado com competências semelhantes".
Pois bem, foi a esta "excrescência", como elegantemente lhe chamaram os seus críticos, entre os quais também pontificava Pinto Balsemão, e que se habituou a fazer favores ao poder, em especial ao eng.º Sócrates e ao PS, que o ministro Miguel Relvas resolveu atribuir a análise do conflito que o opõe ao Público e a uma jornalista que se queixou de ter sido por ele ameaçada se continuasse, porque é disso que se trata, a exercer as suas funções com independência e autonomia em relação ao poder político.
É a essa entidade que o pressuroso, subserviente apparatchik e "envergonhado" (quem não se lembra da forma vergonhosa como se furtou a responder no Parlamento a um jornalista sobre a sua condição de maçon) Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, entende que deve ser remetida a análise do problema pois que, segundo ele, "é importante não desvalorizar o cumprimento das capacidades e competências da ERC sob pena de estarmos a desvirtuar o sistema". Homessa! Então só agora é que lhes deu para valorizar o trabalho da ERC?
É claro que as pessoas não andam a dormir e já todas perceberam que bastou mudar o Governo e nomear para a dita ERC outros nomes para que este órgão ganhasse logo uma série de virtudes antes desconhecidas.
Creio que os portugueses a seu tempo avaliarão, se é que não o fizeram já, o carácter desta gente que em nada, repito, nada, se distingue, daqueles que mais criticaram no passado, e que muda de posições como quem muda de camisa.
Por isso mesmo, eu que já no tempo de José Sócrates critiquei algumas posições da ERC, e hoje continuo a criticar, gostaria de aqui enfatizar as posições de quem estando do outro lado da "barricada" não se comporta como um vulgar troca-tintas e mantém a lucidez suficiente para ver que aquilo que o ministro Relvas e o PSD estão a fazer para se "limparem" e fugirem à responsabilização política no Parlamento é um nojo. Refiro-me a Pedro Lomba, com um texto notável hoje publicado nesse mesmo Público e que aqui reproduzirei mais tarde, e a Henrique Raposo, no Expresso.
O ministro Miguel Relvas já mostrou várias vezes que não merece crédito, que não merece qualquer confiança política. Mas o primeiro-ministro Passos Coelho não "corre" com ele porque depende do ministro para a sua sobrevivência. Para manter a máquina da propaganda activa e bem oleada.
A situação de Miguel Relvas em relação ao primeiro-ministro e a confiança que por este lhe foi manifestada não é muito diferente da que Cavaco Silva deu a um seu ex-conselheiro de Estado numa altura em que este já estava preso por arames. Em cada dia que passa vê-se com mais clareza que Passos Coelho está refém, e de que maneira, dos amigos que o colocaram em S. Bento. Infelizmente, uma vez mais, o que aí vem não augura nada de bom. Este País fede e não há ninguém com tomates para o limpar.
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