(foto Mário Cruz, Lusa)
Bastou-me ouvir ontem o ministro Miguel Relvas na conferência de imprensa que improvisou, após ter sido ouvido na ERC, para que eventuais dúvidas sobre a sua actuação e as queixas das jornalistas e da direcção do Público se dissipassem. A forma como Miguel Relvas tentou disfarçar o incómodo e contornar aquilo que efectivamente disse na Assembleia da República não será muito diferente do que diria um troca-tintas que se dedica a construir versões das histórias que confabula de acordo com as situações em que é apanhado. Disse ontem o senhor ministro que a referência ao clipping sobre a viagem de Bush ao México fora apenas "um exemplo" do tipo de informação que Silva Carvalho lhe fazia chegar. Mas a passagem das imagens televisivas com a gravação daquilo que disse aos deputados é esclarecedora e não corrobora as suas declarações de ontem. Ele não deu um exemplo, ele afirmou taxativamente que o clipping com a notíca de Bush fora o primeiro que se recebera do ex-espião e que do mesmo se lembrava perfeitamente. Aqui não há segundos sentidos. De igual modo, o dizer que telefonou ao Público a pedir desculpa pelo tom que usara, e não pelo conteúdo do que afirmara antes, não cola. O tom, estando ele irado pelas conteúdo das perguntas e "pressão" que sobre ele fizera a jornalista, seria perfeitamente compreensível para a quem o escutava do outro lado da linha, atento o contexto. E se fosse por isso tê-lo logo afirmado para que ao seu destinatário não restassem dúvidas. Ninguém telefona a pedir desculpa só pelo tom, isto é, se não tiver sido malcriado e tiver a razão do seu lado. Pode-se ser contundente sem deixar de cumprir as regras da boa educação. A história, mais uma, que ontem inventou para se justificar à ERC do que fez, é mais um sinal da falta de estatura política do ministro. E, muito em particular, do seu carácter e falta de perfil para desempenhar funções de tanta responsabilidade. O ministro não é confiável. Fez-me lembrar aqueles meninos que quando são apanhados a fazer asneiras na escola ou que se querem impôr aos colegas, à falta de melhor argumento, dizem que se vão queixar ao pai, ou que este é polícia. Depois do que aconteceu com o anterior governo, os portugueses mereciam melhor. Muito melhor.
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