quarta-feira, março 28, 2012

País de pacóvios

Em Macau, nos tempos da Administração Portuguesa, houve uma paragem de autocarro, doada por uma instituição filantrópica, que foi inaugurada por um Secretário-Adjunto do Governador de Macau. Ou seja, pelo equivalente ao nosso ministro dos Transportes. Mesmo em Macau o assunto foi tema de comentário político e gozo generalizado. Mais de uma década depois a história repete-se.
Agora temos um ministro - o ministro da Economia e do Emprego, segundo reza a notícia - que acompanhado de dois secretários de Estado Adjuntos - respectivamente, da Economia e Desenvolvimento Regional e o do Emprego -, e de provavelmente meia-dúzia de deputados, autarcas e dirigentes partidários, vai inaugurar, isto é, patrocinar, a reabertura de um supermercado remodelado da cadeia Alicoop/Alisuper.
Acho muito bem que se recuperem empresas falidas, que se criem novos e se mantenham os poucos postos de trabalho ainda existentes, mas associar três membros do Governo, sendo um deles o ministro, à reabertura de um supermercado junto de um aldeamento turístico de luxo, parece-me excessivo.
Não sei se o ministro da Economia possui algum estudo que revele dados sobre a recuperação económica do Algarve na próxima década que sejam desconhecidos dos portugueses, mas gastar gasolina e portagens e um bom par de horas de trabalho para vir a um Algarve cada vez mais triste, desertificado, falido e com mais de 20% de desempregados, para inaugurar uma tabanca sem dimensão ou qualquer significado, fora dos grandes centros e que irá servir prioritariamente gente que compra e arrenda casas em Vale do Lobo, como Cristiano Ronaldo ou Louis van Gaal, é de todo desajustado. Se a coisa for para continuar, um destes dias tê-lo-emos a inaugurar bares de praia.
Se o homem em vez de fazer discursos com um brilhozinho infantil nos olhos para atacar o passado que ficou morto e enterrado em 5 de Junho de 2011, e de anunciar investimentos megalómanos em minas, que não se concretizam, e inaugurar supermercados (qual vai ser o salário médio daqueles que ali vão trabalhar?), se dedicasse a produzir algo de mais útil para o nosso futuro não seria mau. É triste dizê-lo, mas parece que há qualquer coisa que não funciona naquelas cabecinhas. As prioridades desta gente estão cada vez mais distantes das do país real e dos portugueses.

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