Faz hoje um ano. Aos homens de Sócrates sucederam os de Passos Coelho. A José Lello sucedeu Miguel Relvas. Manuel Pinho passou a chamar-se Álvaro. Os Valteres chamam-se agora Rosalino, Júlio ou Moedas. Teixeira dos Santos virou Gaspar. O Presidente da República deu lugar a um funcionário público agastado e poucochinho. O Lima mantém-se em Belém. Os comentadores residentes também. No futebol e na política. Os congressos "kimilsunguistas" da era Sócrates tornaram-se nos congressos "kimilsunguistas" da era Passos Coelho. A Passos Coelho sucedeu Seguro. Jota por jota. Os boys Armani foram trocados pelos jotas Decénio. E as girls são mais assépticas, com ar de teenagers e vozinha esganiçada. Tirando isso, o desemprego aumentou, os impostos e as portagens também, a receita fiscal diminuiu, 150.000 decidiram emigrar e os que tinham vindo para cá regressaram aos países de origem. Os economistas continuam a sonhar com o regresso aos mercados. Mas a EDP, a Galp e a PT estão mais ricas. Vale e Azevedo continua em Londres a passear de Bentley. Paulo Portas viaja mais e com mais estatuto. A blogosfera está mais triste. Os críticos tornaram-se "Abrantes", os "Abrantes" viraram críticos. A polícia de choque voltou às ruas. A RTP e a Antena 1 estão mais obedientes. A LUSA abana o rabo. A regionalização está ferida de morte. Foi trocada pela lusofonia com sotaque angolano e brasileiro. Os ministros rezam. Os que sabem. Alguns nem isso. Outros por chuva. Outros que não são ministros pela justiça que tarda. Auto-estradas na justiça fiscal só para quem tem milhões. Mesmo que depois os ponha na Holanda. Os pobres que se lixem. A pobreza nunca foi prioritária. Só a "chico-espertice". As púdicas virgens querem que o SNS poupe nos abortos. Eu também. Nesses e nos outros. A arbitragem no futebol está como estava. A liga de clubes é que perdeu cabelo; embora já escreva comunicados cheios de maiúsculas "a bem do Futebol". O QREN está às moscas. O TGV agora chama-se ASP de bitola europeia. Um emplastro de ontem é uma aventesma de hoje. O partido das becas está cada vez mais activo. Não tarda elege deputados. O nosso Di Pietro chama-se Martins. Não é grave. Entre nós isso dá-lhe mais tempo de antena do que ao italiano. O país, esse, está cada vez mais pobre. Os portugueses invariavelmente tesos. As moscas mudaram para que depois do processo de reformas em curso (PREC) tudo ficasse irreconhecível. Mas na mesma. Não ficou. O cheiro é o mesmo. A quantidade não. Aumentou. Espalhou-se. Foge pelas listas da Segurança Social e o obituário hospitalar. Pelos buracos territoriais da nova lei autárquica. Um ano depois a realidade de Lampedusa foi encadernada para distribuir pelos membros do Governo em papel couché. O cheiro do papel disfarça outros menos agradáveis. A fraude perfumada tem mais estilo. E nos intervalos joga-se matraquilhos. Recebe-se o Hermínio, pois claro. Enquanto o Hermínio ajeita as calças o fotógrafo regista o momento. Foram-se os cromos. Ficámos com os trocos. E sem a bola. É a vida.
sexta-feira, março 23, 2012
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