Durante um par de horas percorremos o caminho que nos leva da Piazza Venezzia ao velho mercado do peixe, junto do Templo de Ottaviano, nas cercanias do Museo Ebraico e do Teatro de Marcello, até ao popular bairro, agora muito na moda entre intelectuais e artistas, de Trastevere. Tirando partindo da luz magnífica e de um céu tão azul e tão alto que nos sentíamos transportados em balão, lá percorremos ruas e vielas, apreciando a cor e o movimento, os rostos apressados e as paredes que a história ergueu. Por momentos detenho-me junto à Casa de Dante. E prosseguimos, calmamente, como se não houvesse amanhã, até à Piazza di S. Cosimato e à Igreja de Santa Maria in Trastevere. Depois passamos por S. Egidio, onde o Museo di Roma in Trastevere nos acolhe o tempo necessário para visitarmos mais duas exposições, uma acabada de inaugurar, a outra a aproximar-se do fim. Quando ao cair da tarde cruzámos o Ponte Sisto a caminho da Piazza Farnese e do Campo de Fiori, onde alguns homens procediam às indispensáveis limpezas, e me deparei com a sempre presente e solitária estátua do filósofo Giordano Bruno, cujos originais dos autos que o sentenciaram pudera ver há alguns dias em Capimdoglio, não pude deixar de pensar nas contradições da vida, nas voltas que ela dá até voltar a compôr-se. Não sei se Bruno alguma vez, mesmo em sonhos, terá podido imaginar-se num pedestal do Campo de Fiori. Duvido. Mas naquele momento sonhei que ele teria gostado de me ver ali. E de nele reparar no bulíçio do local. Depois de ter posto em causa o mundo e os dogmas que o rodearam antes de acabar condenado por pensar de maneira diferente, ei-lo ali reabilitado. Em toda a sua grandeza. Perante Roma e o mundo. Perante Deus e os homens. Não há nada como a defesa de uma ideia, com convicção, apoiada no saber, na inteligência e na coragem. Ainda quando todos os céus nos caem sobre a cabeça.
A estátua de Giordano Bruno
As flores que nunca faltam na sua praça.
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