terça-feira, março 13, 2012

Dias de sol (1)

Há cidades de onde nunca chegamos a sair. Por tudo aquilo que elas nos dizem e transmitem. E porque sabemos que por nunca termos saído haveremos sempre de voltar. Roma é um daqueles lugares mágicos de onde nunca se sai mesmo quando não se está. A ela voltarei sempre enquanto tiver vida, saúde e meios que mo permitam. E desta vez não foi diferente. Regressar nesta altura do ano a Itália tem algo de ainda mais fascinante porque há muitos acontecimentos que assinalam o fim do Inverno e marcam os dias mais longos e solarengos que anunciam as estações seguintes. Na Piazza de Campidoglio, nas traseiras do monumento a Vittorio Emanuele II, entre o Foro Romano e a Piazza Venezia, ficam os Museus Capitolini e o Palácio dos Conservadores. Independentemente do interesse que os museus sempre têm, nem que seja só para rever a fabulosa estátua de Marco Aurélio, cuja réplica do original que está no interior está agora na Praça exposta aos elementos da natureza,  tive desta vez a sorte de visitar uma exposição que vivamente aconselho a quem possa fazê-lo.  Chama-se "Lux Arcana - L'Archivio Segreto Vaticano Si Revela". Consiste numa mostra de cerca de 100 documentos do vastíssimo Arquivo Secreto do Vaticano. A exposição assinala os 400 anos da fundação do Arquivo e entre outras relíquias absolutamente fabulosas, como os documentos dos processos contra Galileu e Giordano Bruno, a carta dos membros do parlamento inglês ao papa Clemente VII, a propósito das questões matrimoniais de Henrique VIII, as cartas de Maria Antonieta enquanto aguardava a sua hora e da imperatriz chinesa convertida ao Catolicismo e que tomou o nome cristão de Helena, a carta de Miguel Ângelo a monsenhor Cristoforo Spiritti, bispo de Cesena e futuro patriarca de Jerusalém, a bula de deposição de Frederico II ou a carta de Abraham Lincoln, é possível vermos, imaginem, a bula "Inter Cetera", de 4 de Maio de 1493, pela qual o papa Alexandre VI, Domingo Borja, reconhece a linha de Tordesilhas e os limites dos impérios marítimos de Portugal e de Espanha. A exposição está patente ao público até 9 de Setembro e o bilhete custa € 12,00. Uma ninharia mesmo nos dias de crise e insânia que atravessamos, mais ainda se pensarmos que nas próximas décadas, ou gerações, os vossos olhos e os dos vossos filhos muito provavelmente não terão outra oportunidade de voltar a ver aquilo que ali está patente. Já agora, se puderem, tragam-me o catálogo (€ 15,00), que eu, tão inebriado estava com o que tinha visto, esqueci-me completamente de comprar antes de sair.

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