sexta-feira, dezembro 09, 2011

Os palhaços somos nós

Disse do programa o que Maomé não disse do toucinho. Chamou-lhe um "escândalo" e prometeu reformulá-lo porque não passava de uma fraude e de uma "credenciação da ignorância". Entretanto, o rapaz ganhou as eleições neste país desvairado e farto das manigâncias do "socratismo". Os portugueses, palermas e sem alternativa credível, deram-lhe a maioria.

Seis meses volvidos, e depois do actual primeiro-ministro nomear um novo responsável pelo programa que tão desacreditado foi, um tal de Xufre veio dizer que não tem dúvidas de que "o processo deve e vai continuar" e que "um país, por muitas dificuldades que tenha, só começa a sair delas se apostar no seu bem mais precioso, que são as pessoas".

Esta última frase podia ter sido dita por Guterres. Ou por José Sócrates. Mas foi dita pelo tal Xufre, de nome próprio Gonçalo, o homem que Passos Coelho nomeou para presidente da Agência Nacional para a Qualificação. Xufre não só "faz uma avaliação genericamente positiva do programa Novas Oportunidades" como, acrescenta o Público, "da análise que está a ser feita ao Novas Oportunidades já é consensual a ideia de que são necessários novos passos, porque o objectivo foi recuperar para o ensino pessoas e aprendizagens que importava reconhecer". Novos passos? De coelho?

Desconfiado, reli a notícia da página 14 e ainda consegui vislumbrar uma citação, entre aspas, de mais uma frase do homem que Passos Coelho nomeou para acabar com a "credenciação da ignorância": "Esse processo já atingiu o seu pico, o programa é um sucesso, somos vistos como um exemplo por essa Europa fora". Caramba, será que li bem? Parece que sim. O Público refere serem as declarações públicas e terem sido proferidas "no decorrer da cerimónia de entrega de diplomas a cerca de 70 formandos do centro Novas Oportunidades da Secundária Alves Redol, de Vila Franca de Xira". E Gonçalo Xufre ainda esclareceu, para acabar com dúvidas, que "ficou 'convencido' da importância deste processo quando foi convidado por um grupo económico para a entrega de diplomas a cerca de 500 funcionários".

Grupo económico? Quinhentos? Já sabia que há grupos económicos que têm o condão de fazer algumas pessoas ver com outros olhos quando as convidam para qualquer coisa. Também sei que houve quem atribuísse ao PS, por causa desse programa das Novas Oportunidades, o prémio "fraude da década". E até homens sérios e sensatos como os meus amigos do Delito de Opinião, Rui Rocha e João Carvalho, alinharam pelo diapasão de Passos Coelho, criticando e gozando duramente as Novas Oportunidades.

Eu, que sou incréu, desconfiei da excelência e dos defeitos do programa. Antes, durante e depois.

Hoje, após ler as declarações de Gonçalo Xufre, sabendo que estamos a 9 de Dezembro, e não a 1 de Abril, senti remorsos por não ter acreditado logo no que Sócrates dizia. Se gente da confiança de Passos Coelho, nomeada por ele para desmantelar o "escândalo" e acabar com a "credenciação da ignorância", vem dizer, seis meses depois das eleições, que as Novas Oportunidades são "um sucesso", que hei-de pensar dela? E do programa?

Não tenho dúvidas de que entre esta gente haverá pessoas bem intencionadas. E não tenho (ainda) Passos Coelho na conta de um refinado mentiroso ou de um perfeito trafulha (não conto aqui com aquelas cenas, que são mais da categoria do sádico, dos aumentos de impostos e da rejeição do "PEC 4" devido à excessividade dos sacríficios que os "estafermos" dos socialistas queriam impor ao povo português). Mas declarações como as de Gonçalo Xufre ou as do inqualificável Álvaro Santos Pereira, no Parlamento, fazem-me duvidar, ainda mais, da seriedade de quem disse das Novas Oportunidades o que foi dito.

Da competência deles, ou melhor, da sua incompetência, nunca duvidei. Bastava-me saber que os "ex-jotinhas" eram a locomotiva da mudança para perceber qual seria o caminho que nos esperava. Prova-se em cada dia que passa que não era eu quem estava equivocado. Para mal dos nossos pecados. Os palhaços somos nós.  

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