29 de Setembro
José Gil escreve que “o descaramento faz parte do processo de elevação de um sujeito comum a, eventualmente, um condottiere político” e remete-nos para o exemplo madeirense. Não tenho grandes dúvidas de que assim será, mas Gil esquece um ponto importante no seu raciocínio: o de que o descaramento só assume essa capacidade transformadora se houver quem acolha o descaramento, quem lhe dê dimensão e o leve até aos outros. Esse é um processo bilateral, que implica a existência de duas partes: do descarado e do auditório que aceita o descaramento. Se pegarmos no exemplo da Madeira o auditório somos todos nós e, muito especialmente, a comunicação social que o acolheu, mimou e achou graça aos desvarios. Não só ela. O descaramento tem sido acarinhado pelas instituições do Estado e, em última instância, foram os titulares dos seus órgãos que lhe deram cobertura. Cavaco Silva, por exemplo, mas também Miguel Relvas, o ministro dos Assuntos Parlamentares, que já tinha proferido em declarações às televisões o que hoje reafirma numa entrevista ao Diário Económico. Vale a pena lê-la com atenção para melhor se perceber o homem por detrás do político e se compreender até onde pode ir o descaramento. O que distingue o seu do de Jardim é que no seu caso é polido, seja por ainda andar à procura de adquirir maior dimensão ou por simples estilo; no outro o descarado atingiu o zénite há muito e está-se nas tintas para o brilho.
José Gil escreve que “o descaramento faz parte do processo de elevação de um sujeito comum a, eventualmente, um condottiere político” e remete-nos para o exemplo madeirense. Não tenho grandes dúvidas de que assim será, mas Gil esquece um ponto importante no seu raciocínio: o de que o descaramento só assume essa capacidade transformadora se houver quem acolha o descaramento, quem lhe dê dimensão e o leve até aos outros. Esse é um processo bilateral, que implica a existência de duas partes: do descarado e do auditório que aceita o descaramento. Se pegarmos no exemplo da Madeira o auditório somos todos nós e, muito especialmente, a comunicação social que o acolheu, mimou e achou graça aos desvarios. Não só ela. O descaramento tem sido acarinhado pelas instituições do Estado e, em última instância, foram os titulares dos seus órgãos que lhe deram cobertura. Cavaco Silva, por exemplo, mas também Miguel Relvas, o ministro dos Assuntos Parlamentares, que já tinha proferido em declarações às televisões o que hoje reafirma numa entrevista ao Diário Económico. Vale a pena lê-la com atenção para melhor se perceber o homem por detrás do político e se compreender até onde pode ir o descaramento. O que distingue o seu do de Jardim é que no seu caso é polido, seja por ainda andar à procura de adquirir maior dimensão ou por simples estilo; no outro o descarado atingiu o zénite há muito e está-se nas tintas para o brilho.
A transcendência do “sorriso” das vacas ante a vastidão e frescura do pasto só é alcançável por alguns sobredotados. Deve ser isso que nos faz sentir como bois de cada vez que o escutamos. É pena que Judite de Sousa não se tenha apercebido disso.
JPP percebeu logo a marosca. Anunciar uma “profunda reforma” autárquica e deixar na vontade dos municípios a sua fusão e a redução do número dos actualmente existentes mostra como é fácil reformar em Portugal. O ministro é forte para os fracos – as freguesias e os vereadores das oposições – e fraco para com o verdadeiro poder. Se não for assim como poderão os senhores presidentes de câmara contornar a lei e recorrer a expedientes como o que está a permitir ignorar as orientações do memorando com a troika em matéria de contratações? A reforma nasceu pífia mas há sempre quem aplauda a tibieza e goze com o espectáculo.
No dia em que alguém se der ao trabalho de fazer o levantamento das decisões judiciais que têm sido proferidas por esse País fora em matéria de violência doméstica - não será bem isso mas uma coisa parecida, menos gravosa, uma espécie de desporto, uma actividade lúdica, e a forma absolutamente escandalosa como neste País se contemporiza - na minha perspectiva e salvo o devido respeito por quem pensa de maneira diferente - com crimes graves e a moral mais sórdida à força de argumentos jurídicos, talvez então seja possível começarmos a olhar para nós com outros olhos. Murros e pontapés, injúrias, agressões com uma cadeira, presumo que de boa qualidade e fabrico nacional, escoriações na parede torácica, um hematoma na região frontal e na mama e escoriações várias, resolvem-se com 800 euros de multa e uma indemnização de 500 euros. Se igual critério fosse utilizado no julgamento das injúrias e violências contra magistrados desconfio que já não haveria juízes nos nossos tribunais. Esta decisão só permite uma conclusão: enquanto não as matarem e esfolarem ou se a cadeira não se partir nunca a violência será suficiente.
E ainda há quem se preocupe connosco. Só uma relação interesseira pode explicar a atenção que nos dão. A nós não, aos juros.
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