segunda-feira, outubro 12, 2009

UM ESTRANHO PAÍS

Finalmente, chegou ao fim o ciclo eleitoral que começou com as europeias de Junho, passou pelas legislativas e terminou ontem com as autárquicas. Nos próximos anos vai ser tempo de trabalhar, de enfrentar a crise, de nos concentrarmos nos projectos em curso e de preparar o futuro. Para quem pensava que o PSD ia esmagar o PS nas autárquicas, os resultados têm um sabor agridoce. Se a especificidade das autárquicas desaconselha leituras nacionais, não é menos verdade que não há líder político que não procure fazer extrapolações desses resultados. Por isso mesmo, será difícil fugir a essa leitura. O PS segurou quase 2 milhões e 100 mil votos, que lhe garantiram 918 mandatos nas vereações. O PSD sozinho e coligado obteve 898. Mas obteve 138 câmaras, 22 das quais em coligação. O PS sozinho e nalguns casos com o apoio de uns poucos independentes ganhou 130 câmaras. Mais 22 do que as que tinha. Perdeu Faro por 126 votos, Monchique por 70. Foi humilhado no Porto, em mais uma escolha com a chancela exclusiva do secretário-geral. E depois? Ganhou em lugares tão emblemáticos como Beja, Matosinhos, Viana do Castelo, Leiria e Aljustrel. Foi bom para quem tinha a ideia de que a força do PS ao nível autárquico se esgotava em meia dúzia de dinossauros locais e nalgumas figuras nacionais que de quando em vez davam um salto ao poder local. Como se viu não é bem assim. O que fica para a história é que este país muda pouco. Às vezes muda sem que se perceba bem porquê. Curiosamente, é nas autárquicas que melhor se percebe a fibra e o carisma de um líder. Incluindo dos líderes nacionais que impõem algumas escolhas aberrantes. De outras vezes torna-se patente a falta de jeito dos aspirantes. E confirma-se a de alguns antes consagrados no plano nacional. Todos os políticos profissionais deviam passar o crivo do poder local. As autárquicas são um pequeno laboratório que devia ajudar os partidos a pensar, a salvaguardar erros futuros. Não sei se alguma vez isso irá acontecer. É o que causa ainda mais estranheza.