Como amanhã é dia de reflexão este blogue também estará de pousio. Daí que, antes que outros o façam por mim e depois me acusem de plágio, quero aqui deixar as minhas perspectivas pós-eleitorais. O estado do país não permite imaginar muitos cenários. Com ou sem obras públicas, é certo e sabido que a crise está para continuar. Uma vitória do PS, ainda que tangencial, poderá constituir um novo fôlego para as autárquicas e as legislativas de Outubro, catapultando o PS para novas vitórias, sendo que as últimas sê-lo-ão sempre sem maioria absoluta. Mas ainda é possível dar a volta para se obter um resultado que não comprometa de vez as aspirações do partido. Bastará que o primeiro-ministro resolva acabar rapidamente com o filme em que tem apostado, se livre da tralha do socratismo e de alguns actores de série B que o têm exuberantemente acompanhado, e se decida a realizar uma curta-metragem de grande impacto. Eu recomendo uma coisa do género daquele filme português que ganhou este ano a Palma de Ouro em Cannes. Ou seja, terá de arranjar meia-dúzia de actores competentes, daqueles que só por si enchem a pantalha, um guião credível e um realizador à altura. Mesmo com meios limitados é possível fazer muito melhor. Não antevejo uma derrota do PS, em especial porque as pessoas já perceberam que uma vitória do PSD assumiria contornos de verdadeira catástrofe. Alguém imagina um parque aquático repleto de escorregas e de miudagem, sem guardas, com uma mãe que detesta confusões e que está permanentemente a mandá-los calar e a estarem quietos, enquanto os filhos (Rangel, Macário, Marques Mendes, Menezes, Passos Coelho, Morais Sarmento, Santana Lopes, Mendes Bota) não lhe ligam nenhuma, cada um a falar para o seu lado, a rirem-se, a comerem gelados, com todos a acotovelarem-se, batendo-se e discutindo para ver quem desce primeiro os escorregas, ao mesmo tempo que o filho mais velho (Rui Rio) diz que não é nada com ele e que não foi ele quem lhes comprou os bilhetes? Pois é, este é o cenário mais provável em caso de vitória do PSD no domingo. Arrepiante! Confesso que desta forma não me estou a ver chegar a Outubro inteiro. Por outro lado, qualquer que seja o vencedor no domingo, a irrelevância eleitoral da CDU manter-se-á. Não há votos de protesto úteis, embora por vezes, salvo o devido respeito, haja idiotas úteis. Já a influência do Bloco de Esquerda poderá vir a ser decisiva se o seu resultado eleitoral melhorar e se o partido conseguir meter mais um deputado em Bruxelas. Em tal hipótese, a possibilidade de haver um aumento de coligações pré-eleitorais disfarçadas nalgumas autarquias (PS/BE) não será de desdenhar. O Bloco também quer e gosta do poder. Quer para o PS quer para o Bloco é fundamental ganhar votos à CDU para chegarem aos próximos actos eleitorais com mais força. Um reforço da CDU não só não trará quaisquer benefícios para o país, aumentando a conflitualidade social e as lutas laborais, como reforçará nos portugueses a convicção de que este país não sairá da crise nos próximos anos. Para o CDS, apesar da boa campanha que tem feito, onde Nuno Melo é cada vez mais o homem na calha para substituir Portas em caso de débâcle, qualquer resultado que se traduza em menor número de votos - mesmo sem perder mandatos - será sempre um mau resultado. Como o CDS promete sempre mais do que aquilo que é capaz, ao contrário do que dizem os seus dirigentes e o partido sabe, o modelo Portas está esgotado. As perspectivas não são boas. A queda de Portas, a que se poderá seguir nova vitória interna, é só uma questão de meses. O partido não tem massa crítica, limita-se a seguir o líder e continuará a fazer o que este disser. Só os seus militantes poderão decidir se preferem manter um CDS/PP com Portas, com muito alarido e sem qualquer expressão eleitoral, ou se preferem um partido mais moderno, renovado, com outra gente e outro rumo. Quanto aos novos partidos/movimentos que se apresentam a estas eleições não faço qualquer previsão. Espantar-me-ia se algum deles elegesse um deputado. Mas na actual situação o desespero pode levar a tudo. Quem no meio disto tudo, depois de perder uma parte da poupanças e de se ver misturado nas confusões da SLN/BPN por causa de umas acções que já nem possui, será o Presidente da República. Só lhe restará pensar como irá desembrulhar-se deste atoleiro em que se meteu. Por mim, não deixarei de votar, mesmo contrariado. Domingo por esta hora já nos estaremos a preparar para saber alguma coisa de mais definitivo.