segunda-feira, maio 18, 2009

CHAMEM O COVEIRO DO ALTO DE S. JOÃO!

Quem leia jornais e acompanhe com um mínimo de interesse a nossa vida política, já se deu conta de que começam a ser poucos os dias em que um dos partidos políticos com representação parlamentar não exige, ou não anuncia que vai exigir, a ida à Assembleia da República de alguém para "explicar" qualquer coisa. Pode ser um ministro, um empresário, um magistrado ou mesmo um zé-ninguém sem quaisquer responsabilidades. O importante é que seja alguém que contribua para manter os nossos parlamentares ocupados nas comissões. Fazendo perguntas e fazendo-se ouvir. Por dá cá aquela palha pede-se a presença de um fulano. Por vezes, há um outro convidado que invoca deveres de sigilo e aí os anfitriões passam pela vergonha de ficarem a perorar sozinhos. Não satisfeitos com isso, agora querem o ministro da Justiça (outra vez?), o procurador Lopes da Mota (não há um processo em curso?) e, ouvi esta tarde, até o responsável pela inserção informática dos dados do desemprego. Este último para esclarecer um "apagão" de 15 mil desempregados nas estatísticas! E a coisa é de tal forma bizarra que nem mesmo se resolve com um esclarecimento dos visados, quando tal é possível e se torna evidente que em causa estará um erro, um lapso prontamente assumido e corrigido. Os convidados, com maior ou menor frete, lá vão aparecendo. As horas perdidas são incontáveis. Mas há deputados que se comprazem nessa actividade inquisitorial. Parece não haver nada que possa ser feito pelos nossos parlamentares sem ser com pedidos de esclarecimento, ao vivo e a cores, nas enfadonhas reuniões das comissões. Sem uma comissão de inquérito nada feito. Estou seguro que alguns teriam dado excelentes polícias ou procuradores. Mas, enfim, às vezes um tipo tem de fazer o que aparece e nem sempre o que aparece corresponde à nossa vocação, ao nosso talento, ou é condignamente remunerado. No final de cada mês as contas lá estão, à espera que alguém as pague. Acaba por ser compreensível essa deslocalização vocacional. Os resultados, como também toda a gente já se apercebeu, é que continuam a ser normalmente parcos. Vejamos: já alguém conseguiu perceber qual a diferença entre o papel de Oliveira e Costa e o de Dias Loureiro nos negócios do BPN, sabendo-se que o primeiro não prestou declarações? Tudo se resume à abertura dos telejornais. Com esta atitude sai invariavelmente reforçado o ambiente de chicana parlamentar. As sucessivas reuniões e inquirições do Caso Camarate podiam ter servido para alguma coisa. Mas não. O mal tem vindo a agravar-se. As últimas notícias não auguram nada de bom. Não tardará e teremos os nossos deputados a convocarem o chefe dos coveiros do Alto de São João para explicar a falta de flores nalguns jazigos. Ou o Nuno Gomes para teorizar sobre as razões do insucesso desportivo do futebol benfiquista, cujo peso no PIB nacional não poderá ser desvalorizado face aos maus resultados. Quem garante que não estaremos, também aí, perante manobras pré-eleitorais do executivo de José Sócrates? Há quem diga que o rídiculo mata. Ali para os lados de São Bento começo ter a vaga impressão de que é visto como uma condição, sine qua non, para a valorização da função parlamentar.