sexta-feira, maio 08, 2009

AINDA O FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS

Se há coisa que o exercício de funções na Câmara Municipal de Lisboa esteja a dar a António Costa é o distanciamento da actividade governativa e parlamentar, o que lhe permite ter uma visão ainda mais clara do que se vai passando nos meandros parlamentares e governativos. Por isso mesmo, não posso deixar de saudar a posição por ele manifestada relativamente às alterações recentemente aprovadas pelo Parlamento quanto ao financiamento dos partidos. António José Seguro já anteriormente e em diversas ocasiões manifestara a sua coerência sobre esta matéria, aliás corajosamente reflectida na posição assumida na hora da votação e constante de artigos, entrevistas e diversas declarações avulsas. Salvaguardados os óbvios e compreensíveis exageros de linguagem de João Cravinho e de Saldanha Sanches, é fácil perceber que as alterações aprovadas, bem como a anterior inserção de uma estranha norma na proposta do Orçamento de Estado, não constituiram um mero lapso. Só o conluio e o conúbio parlamentar, naquilo a que alguém já chamou a berlusconização da política, é que permitiram que se chegasse à aprovação de uma alteração legislativa que prima pela indecência e que demonstra com toda a evidência até que ponto a partidocracia dominante está disposta a penalizar e sacrificar o regime para garantir privilégios que são a qualquer luz injustificáveis. Não sei se um golpe destes na seriedade do regime será recuperável nos anos mais próximos. Numa altura de crise como a que atravessamos, quando se apela à participação das pessoas e se proferem declarações enfáticas sobre a moralização da vida política, não deixa de ser estranho que líderes partidários e parlamentares que convocam um ar sério e grave para dizer banalidades sobre a transparência e para criticar os adversários políticos sobre dá cá aquela palha, se remetam ao silêncio num assunto desta dimensão e gravidade, em especial quando o aumento de receita não é acompanhado, como muito bem salientou António José Seguro, por uma diminuição correspondente da subvenção que sai do bolso dos contribuintes. Não podia, pois, nesta hora do regime, hora bem mais grave do que aquilo que se possa imaginar por aquilo que de nefasto representa para a nossa democracia, deixar de estar ao lado dos meus camaradas António José Seguro, cuja coragem continua a dar cartas internamente, e do António Costa. Na política, como na vida, o parecer e o ser têm de andar sempre lado a lado e nesta matéria não podia estar mais de acordo com eles. Tenho pena que o Manuel Alegre também se tenha esquivado numa questão como esta a assumir uma posição mais transparente e menos dúbia, mas parece que a ambiguidade é cada vez mais a sua imagem de marca. Por nestas alturas ele se equivocar é que o seu "capital de influência" vai ficando cada vez mais depauperado. Pode ser que o Presidente da República, do qual em muitas matérias estou cada vez mais distante, a começar pela do bloco central, tenha arte para perceber o que aqui se joga em termos de saúde do regime.