A escolha de Paulo Rangel para liderar a lista do PSD às eleições para o Parlamento Europeu pode suscitar muitas declarações de espanto ou de aprovação. O timing, como agora é fino dizer-se, foi o que a líder do partido entendeu ser o mais correcto. Isso é lá com ela. A competência do escolhido também não merece quaisquer comentários, já que ela é indiscutível e publicamente reconhecida. Não é pelo facto de militar num partido diferente que se vai retirar mérito e qualidades a quem os tem. O que me suscita reparo é a constatação, aliás já verificada no PS, de que o PSD não tem mais ninguém. A falta de quadros capazes é gritante. É a reafirmação da crise de talentos na política. Só a inexistência de gente competente e qualificada para preencher as listas é pode levar a líder do PSD a abdicar de um excelente parlamentar, jovem e tribuno preparado, para o mandar para Bruxelas. O PS sempre pode explicar a escolha de um "independente" como Vital Moreira com a necessidade de conquistar votos fora das estreitas balizas partidárias. Mais difícil será ao PSD justificar como será possível, segundo as palavras da Dr.ª Manuela, que tendo tantas boas hipóteses de escolha, tenha preferido descapitalizar a bancada parlamentar e exilar o seu líder parlamentar e um dos mais competentes quadros do partido. A não ser que essa escolha da Dr.ª Manuela Ferreira Leite se insira numa estratégia que vise lançar o presidente do PSD/Algarve, Mendes Bota, como líder parlamentar. Depois da escolha de Santana Lopes para Lisboa e da aquisição de alcoolímetros por Agostinho Branquinho para os funcionários do partido soprarem, já nada nos pode espantar. A crise nos partidos veio mesmo para ficar.