Na mesma altura em que as autoridades portuguesas responsáveis pela cultura se preparam para fechar a Livraria Portuguesa, em Macau, um espaço único e que ao longo de gerações serviu para divulgar a língua e a cultura portuguesa estreitando os laços entre os expatriados, residentes locais portugueses ou de ascendência portuguesa e a Nação que lhes deu a identidade e a fé; na mesma altura em que a China impede a presença de estrangeiros no Tibete, a Assembleia Legislativa de Macau aprovou, por unanimidade, pese embora as quase duas duas dezenas de declarações de voto, que não são de menosprezar, uma lei relativa à segurança interna do Estado. Onde se diz Estado leia-se República Popular da China. Nas palavras de um ilustre advogado e deputado local, trata-se de uma lei que salvaguarda "os valores essenciais da RAEM e da Pátria". Estas declarações, em sentido aliás coincidente com as da Secretária para a Administração e a Justiça, Florinda Chan, que afirmou que a aprovação da referida lei vem colmatar uma lacuna jurídica (?) que existia desde a criação da Região Administrativa Especial de Macau e revela o "Amor à Pátria e à RAEM". Em Hong Kong, a aprovação de legislação de cariz idêntico levou a população a manifestar-se nas ruas contra a mesma. Em Macau deu direito a manifestações de apoio e, como se vê, a declarações inflamadas em prol da Pátria. Mário Soares, Carlos Melancia, Jorge Sampaio e Vasco Rocha Vieira devem estar no seu íntimo muito satisfeitos. Quer queiram quer não, este é o legado português em Macau. E ainda só passaram nove anos sob a data da transferência de administração para a China. Melhor era impossível.