quarta-feira, novembro 12, 2008

SUPERVISÃO CONGOLESA

Vítor Constâncio considerou ontem, na sua audição na Assembleia da República, que não houve falha do Banco de Portugal na sua actividade de supervisão e que por isso mesmo não há razões para se demitir. É natural, neste país nunca ninguém encontra razões para se demitir, com as honrosas e deslocadas excepções de António Vitorino, por causa de uma mísera sisa, e de Jorge Coelho, que não se conseguiu conter no triste caso de Entre-os-Rios. Analisando o número de funcionários que o Banco de Portugal tem - mais de 1700 - e o número daqueles que estão afectos à actividade de supervisão e fiscalização, a tarefa mais nobre dessa instituição e aquela da qual os portugueses mais esperam, só podemos concordar com o governador do Banco de Portugal. Com 60 técnicos para seguir 320 instituições, e com as inspecções a demorarem no mínimo 1 mês, as hipóteses de uma instituição ser fiscalizada duas vezes numa década são mais do que remotas. Isto explicará, seguramente, a razão, ainda ontem referida na Assembleia, para que de um ano para o outro haja páginas dos relatórios que são integralmente copiadas, numa tarefa que tem tanto de criatividade quanto de estabilidade e segurança. De facto, de uma instituição por onde passaram quase todos os nomes do regime, muitos deles confundindo-se com a sua má-moeda, não há muito mais a esperar. Vítor Constâncio tem, pois, razão em não se demitir. O problema não foi de supervisão. Foi e é apenas de gestão. E entre a do Banco de Portugal e a dos banco centrais do Congo ou do Ruanda, até prova em contrário, presumo que não deva haver qualquer diferença.