Quem diria que 34 anos depois do 25 de Abril de 1974 o Estado voltaria a ter de intervir na gestão de um banco? Ao longo de anos sucederam-se as queixas, os avisos, os apelos ao Banco de Portugal para uma fiscalização mais efectiva do sistema bancário nacional. Não só em relação ao BPN (Banco Português de Negócios). Muitos bancos foram visados pelos queixosos, muitas práticas foram questionadas. Das comissões ao desconto de cheques. Durante anos o Banco de Portugal fez ouvidos de mercador. Tudo caiu em saco roto. A promiscuidade, o compadrio e a protecção corporativa e clientelar das famílias políticas dominantes impediram as autoridades de supervisão bancária de actuar rigorosa e atempadamente. Agora os casos sucedem-se, procura-se lavar a face, atabalhoadamente. Tanto faz que se chame Millennium ou BPN. Se o sistema bancário português necessita de recuperar a credibilidade, então não bastará ao Estado intervir no BPN. Os seus administradores e accionistas terão de ser penalizados, mas o Governo também tem de mexer no Banco de Portugal. Isso é fundamental, pois enquanto a entidade máxima de supervisão mantiver a mesma gente e as mesmas práticas que permitiram que se chegasse a esta situação, não haverá credibilidade que resista, por maiores que sejam as operações de salvamento. O ar distante e seráfico de Constâncio está demasiado comprometido com a actual situação. A sua equipa não tem categoria. E se antes a culpa já não podia morrer solteira, agora ainda menos. O pagamento da factura sairá do bolso de todos nós.