Ao longo dos anos habituei-me a ver anúncios do Banco Privado Português (BPP) nos chamados jornais de referência. E também em muitas revistas. Normalmente eram anúncios de dupla página, a cores, com textos interessantes, num misto de publicidade disfarçada e literatura. Numerosas personalidades da vida pública nacional associaram-se a esses anúncios, escrevendo textos que depois a instituição publicava. Versavam em regra sobre a criação de riqueza, sobre a poupança ou sobre o dinheiro em geral. De generais reformados a advogados de sucesso, de escritores reputados a actrizes conhecidas, muitos foram os que "emprestaram" o seu nome a essa forma dissimulada de oferecer os serviços do BPP. Ainda há um mês atrás, a revista Única (nº 1877, de 18 de Outubro), publicada com o semanário Expresso, num número todo ele dedicado ao dinheiro, trazia um texto de Daniel Proença de Carvalho com o título "Riqueza", onde este conhecido causídico discorria sobre esta e a sua criação. Tal como acontecia em todos os outros textos, era a remissão de algumas passagens deste para as notas marginais que levava o leitor para o universo do BPP. E com estas notas ficava-se então a saber que "O Banco Privado Português constrói soluções de investimento optimizada à medida de Clientes Institucionais designadamente Fundos de Pensões, Seguradoras e Fundações"; que o BPP se assumia como "um dos bancos mais capitalizados do mundo" no seu segmento, com capitais próprios de 200 milhões de euros, e que "na interpretação do Banco Privado Português, necessidade básica é aplicar o dinheiro da melhor maneira possível". Explicava-se que para esta finalidade existia "a Estratégia de Retorno Absoluto, que garante valorizações reais e potenciais muito competitivas, bem como a conservação do capital investido". Eu não tenho jeito para fazer humor, mas esta última parte deixou-me a pensar. Qualquer teso como eu aspiraria a ter valorizações reais muito competitivas - digamos que superiores aos 2% e pouco por cento brutos que o meu banco me paga por um depósito a prazo - e ainda ter a garantia da conservação do capital. Eu não sei se estes anúncios que o BPP publicava até há uma ou duas semanas atrás constituem publicidade enganosa. Mas suspeito que sim. Em especial depois de ouvir o presidente do BPP dizer que precisava de uns míseros 750 milhões de euros para a sua instituição não abrir falência. Certamente que este valor asseguraria o tal retorno absoluto que os anúncios publicitavam. Isto é fácil de perceber. Custa-me é aceitar que seja com o dinheiro dos tesos dos contribuintes deste país, o dinheiro daqueles que são sempre olhados de lado quando entram nalguns bancos, o dinheiro dos que pagam os seus impostos e nunca têm o retorno assegurado, muitos deles nem sequer quanto à segurança no trabalho, que o Dr. João Rendeiro queira safar a massa dos seus clientes da Marinha e do Estoril. O Dr. João Rendeiro, depois de enterrar milhares em publicidade, agora só precisa que alguém lhe mostre a estratégia do enterro absoluto. Um banqueiro que não consegue garantir as valorizações reais e potenciais muito competitivas que apregoa, e nem sequer garante a conservação do capital investido, não merece continuar a ser banqueiro. Quem sabe se não será na publicidade, no circo ou no ilusionismo, que o Dr. João Rendeiro não descobrirá a sua vocação escondida.