"Reconheço que a minha geração, bem como a anterior, deu imenso a Portugal desde 1974 e fez o país progredir em três décadas tanto como a generalidade dos países europeus só progrediu em cinco ou seis decénios. Mas falhámos, quase por completo, em três pontos essenciais: não conseguimos manter um crescimento económico acelerado; não melhorámos a qualidade e os conteúdos do ensino secundário; e, sobretudo, não fomos justos, nem eficazes, nem generosos, no combate à pobreza, na redução das desigualdades e na generalização da solidariedade social. Portugal é hoje o país da Europa ocidental com maiores desigualdades sociais, com maior percentagem de pessoas a viver abaixo dos mínimos internacionalmente aceites, com mais elevado grau de injustiça fiscal, com maior número de habitantes a viver em barracas, nomeadamente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, e com uma quase total desprotecção do Estado em relação às famílias afectadas pelo drama das doenças mentais incuráveis".
Tirando os exageros habituais, quer-me parecer que por uma vez viu a realidade. Nunca é tarde para nos reconciliarmos com a nossa consciência.