terça-feira, setembro 02, 2008

PROFESSORES

Durante anos criou-se neste país o mito de que havia emprego para todos. Emprego, não trabalho. Por isso mesmo, durante décadas, o Estado andou a formar os professores de que não precisava, muitos deles empurrados para uma carreira para qual não tinham a mínima vocação, mas que lhes garantia de forma irregular e descontínua um emprego e alguma remuneração. Aliado a este mito, alguma esquerda, cretina e demagógica, manipulada pelo PCP e seus satélites, exigiu a sua inclusão nos quadros do funcionalismo público, numa primeira fase, e, depois, a extensão das regalias dos trabalhadores efectivos do Estado ao exército de professores que passava recibos verdes e todos os anos fazia bicha para tentar uma colocação. A nossa cultura laxista e irresponsável permitiu que o número de professores desocupados fosse crescendo, ao mesmo tempo que diminuía a população escolar. Mais dia menos dia a situação seria insustentável. Já não há volta a dar-lhe. É claro que o Estado e sucessivos governos estiveram mal, permitindo o exercício de funções permanentes, a muitos deles, sob a capa da provisoriedade e a troco de um recibo verde, ou seja, fecharam-se os olhos - não só aí -, permitiu-se a fraude à lei. Isto não quer dizer que os contribuintes portugueses sejam obrigados a pagar eternamente pelos erros passados, e arranjar colocação para 40.000 professores que não têm alunos. Os alunos não podem ser inventados por decreto. Daí que tenha a maior justeza a corajosa posição assumida pela ministra da Educação. Os sindicatos bem podem berrar, mas o que o Estado tem a fazer é ajudar essas pesssoas a obterem novas ferramentas e orientá-las para outras actividades socialmente úteis, aproveitando, se possível, a sua formação e experiência. Ainda há algumas semanas atrás, a revista Única e a SIC, em duas excelentes reportagens, deram conta da existência de um ex-pianista profissional que agora trabalha na Noruega, num dos locais mais remotos da Europa e com um clima do mais agreste que há, numa fábrica de produtos derivados do bacalhau, para garantir o seu sustento. Este exemplo de dignidade do pianista João Balula Cid, habituado antes a um trabalho limpo e agradável, no meio da melhor sociedade de Cascais e do Estoril, e que agora suporta o frio, a distância e o cheiro a peixe, devia fazer pensar os 40.000 professores que ficaram por colocar e os seus maiorais dos sindicatos.

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