Aquilo que tem vindo a ser relatado, de forma insistente ao longo de todo o fim-de-semana e que hoje continua nas páginas dos jornais, relativamente ao sucedido na reunião de sexta-feira do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, já devia ter obrigado a que o presidente da Federação, o inenarrável Gilberto Madaíl, e o membro do Governo que tutela o Desporto, tivessem dito alguma coisa de substancial, tivessem dado um sinal sobre o que pensam e sobre a forma como pretendem resolver o problema gerado pelos braços tentaculares do clientelismo, do nepotismo encoberto, da promiscuidade entre o futebol, a política, os negócios e o poder autárquico. Percebo que seja incómodo para os senhores resolverem o problema, em especial se tiverem chegado onde chegaram à custa de acordos de bastidores para a formação de listas, distribuindo lugares e promessas ou contando para tal com o estatuto de utilidade pública que a Federação Portuguesa de Futebol ostenta, situação de favor que há muito deveria ter perdido porque não há nada na sua actuação e no comportamento dos seus órgãos nos últimos anos que o recomende. Se Laurentino Dias não actuar desta vez, ao contrário do que fez no caso Nuno Assis, de triste memória, e apresentar de novo como razão para a sua inércia a autonomia dos órgãos disciplinares da justiça desportiva, quando se sabe que eles são tudo menos autónomos, José Sócrates tem apenas um caminho a seguir: retirar o estatuto de utilidade pública à Federação Portuguesa de Futebol e dissolver todos os órgãos desta, acabando com o circo. Curiosamente, ao mesmo tempo que esta salganhada acontece, fica-se a saber dos estranhos contornos de uma ainda mais estranha proposta feita ao jogadores da selecção nacional de futebol, em Março passado, para exploração da sua imagem comercial, veiculada por uma tal agência "Polaris", ligada ao empresário Jorge Mendes e a Bárbara Vara, filha de Armando Vara, cuja rejeição por parte da maioria dos jogadores terá desencadeado a ira do ex-seleccionador nacional, agenciado pela mesma Polaris, que ao saber do que se passou terá mesmo ameaçado alguns jogadores de não irem ao Euro 2008 se não aceitassem tal representação. Um dos jogadores visados, di-lo o jornalista Octávio Lopes, foi Marco Caneira, um dos que ficou de fora da convocatória. Tudo isto é muito grave. E mais grave ainda é que fique sem os devidos esclarecimentos. Se depois ainda atentarmos em que toda esta gente que "anda metida" no futebol e nos "negócios da bola" exala ligações autárquicas e políticas (Madaíl foi deputado do PSD, Valentim Loureiro também, Gonçalves Pereira é autarca do PSD em Gondomar, José Luís Oliveira é do PSD, Hermínio Loureiro também é do PSD e é deputado por Aveiro, Rui Gomes da Silva está ou esteve também ligado ao futebol...) sem que lhes sejam conhecidos quaisquer méritos que os recomendem para os cargos que ocupam e/ou ocuparam - basta ouvi-los falar para se ter uma ideia do nível -, é de perguntar se tudo isto que se tem passado não é suficientemente mau e desonroso para obrigar a uma intervenção da tutela e para que seja desencadeada uma investigação com cabeça, tronco e membros aos bastidores do futebol português.
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