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É claro que não sei se os imortais dotes orátorios que consagraram Jardim terão alguma coisa a ver com o vernáculo e o insulto que o seu estilo elevou a linguagem de Estado ou se o apito também terá como objectivo afastar a passarada da estátua para que esta não venha a ser conspurcada pelas inevitáveis caganitas que pombos e gaivotas atraídos pela vista e grandeza da construção se pudessem lembrar de aí depositar. Compreende-se que não seria bonito ver o olho ou a boca do "amado líder" madeirense envoltos numa camada de trampa corrosiva. Os turistas nunca se habituariam a esse cenário susceptível de permitir o prolongamento do cheiro pelas suas recordações fotográficas. A técnica hoje faz milagres e não faltará muito para o dia em que isso aconteça.
Não querendo antecipar o futuro, importa que saibam que o proponente desta iniciativa - é fundamental tomar nota do nome - é um tal de Baltazar Aguiar, deputado regional, tendo os serviços da Assembleia Legislativa da Madeira solicitado, imagine-se, um parecer jurídico prévio sobre a respectiva admissibilidade.
Face a um cenário destes é legítimo duvidar do estado de sanidade das instituições madeirenses e perguntar se há alguma justificação para que o erário público sustente estas inanidades a coberto dos custos da insularidade.
Que o deputado Baltazar promova a iniciativa ainda se poderá perceber, embora com dificuldade, atentas as semelhanças que certamente haverá entre a Coreia do Norte e a Região Autónoma da Madeira. Hoje, pelo menos, em matéria de alternância política. Amanhã em matéria de estátuas.
Que o órgão legislativo regional não se demarque disto é trágico.
Mas mais trágico ainda é que um político como Jaime Gama ainda se tenha dado ao luxo de dizer o que disse sobre Alberto João Jardim no congresso da Associação Nacional de Freguesias. Naquilo que Gama disse não está, evidentemente, uma qualquer dissociação entre o institucional e o político. A não ser que a sua refinada costela socialista e republicana também esteja a pensar em ter uma estátua lá para os lados de São Bento. Neste caso, não tanto para consagrar os seus dotes oratórios, mas antes o seu próprio sentido de humor. Sabe-se que ninguém está livre das partidas que a idade e a perpetuação no poder vão pregando. Mesmo em democracia, que nessa matéria não deixa de ser generosa e distribui igualitariamente por todos.
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