quarta-feira, abril 30, 2008

COMPLEXOS DE INFERIORIDADE

Continua a cruzada em torno do PSD. O líder da Madeira veio dizer que perante a multiplicidade de candidaturas, o futuro presidente do partido arriscava-se a ser eleito com 21% dos votos e que, nessas circunstâncias, a Madeira não o reconhecerá. Para ele, um presidente eleito com menos de 50% dos votos, numa eleição democrática e participada, não gozará da legitimidade suficiente para se impor. Pelo meio, Jardim, sem explicar como é que Menezes se afundou com a legitimidade que tinha, lançou mais um descabelado ataque contra uma "certa burguesia dos salões de Lisboa e do Porto" que tenta "desvirtuar um partido popular e social-democrata como é o PSD"(sic). Gosto em especial da última parte. Quando ele diz "popular" e "social-democrata" faz por ignorar que essa burguesia foi a base para a formação do partido, a começar por Francisco Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota, Miller Guerra ou Miguel Veiga, e constituiu o respaldo ao longo dos anos para que o PSD se cimentasse como um dos dois maiores partidos democráticos e garante da democracia portuguesa. Em especial quando, como ainda muito recentemente, a deriva populista se quis apossar do partido. Jardim esquece mesmo que ele próprio e a sua malta ilhoa são hoje a burguesia madeirense, embora ordinarote no estilo e nos modos, e que a única diferença entre a "burguesia dos salões de Lisboa e do Porto" e a que ele representa está em que a primeira não possui uma rede clientelar de apoio ao seu serviço, ao contrário da segunda que a tem sempre pronta a satisfazer os interesses, egoísmos e aventuras dos seus caciques. O que acontece na Madeira acontece também no Algarve, em Viana do Castelo, em Viseu ou em Castelo Branco. A fragmentação do PSD é fruto da coexistência de diversas sensibilidades. Não há qualquer artificialismo nisso e muito menos drama. Por isso mesmo é que a distinção não deverá ser feita entre "burguesias", ou entre "burguesia" e "povo", como quer Jardim, mas entre líderes competentes e líderes incompetentes, entre líderes corajosos e líderes cobardes. O que distingue um líder competente e corajoso de um medíocre é a capacidade, com as regras do jogo, de congregar forças e dar ao partido a coesão necessária aos combates futuros, de forma a poder levá-lo até esses combates em posição de aspirar à vitória. Manuela Ferreira Leite ou Passos Coelho perceberam isso. Jardim ainda não o percebeu. Mas tem agora uma oportunidade única de pulverizar os seus adversários, de esmagar essa "burguesia dos salões de Lisboa e do Porto" contra a qual ele quixotescamente pretende lutar, obtendo um resultado que o catapulte para as legislativas e unifique o partido. Bastaria que se apresentasse aos eleitores. O problema de Jardim é ter medo dos eleitores. Medo e complexo de inferioridade. Ele sabe que só com um aparelho totalitário e clientelar, como o que criou na Madeira, e com a subversão das regras do jogo - criação de uma 2ª volta -, depois de marcada a data do jogo, é que eventualmente conseguiria triunfar. E sabe que não o conseguirá fazer a tempo das directas. Esse é o seu drama e o de quem o apoia. Daí o apelo à desistência dos candidatos que se apresentaram e o seu indecente estrebuchar.

P.S. Não posso deixar de estranhar o apoio de Carlos Carreiras a Jardim. Custa-me perceber como é que um cavalheiro educado e responsável se mete no mesmo "pacote" de Jardim. E não acredito que o facto de ter trabalhado durante algum tempo com alguém que ficou famoso por atirar garrafas de água pela janela do carro o obrigue agora a colocar-se desse lado da barricada. Como em tudo na vida pode ser que haja razões que a razão desconheça.

Sem comentários:

Enviar um comentário