segunda-feira, janeiro 14, 2008

UM PSD ESTALINISTA OU UM PCP SOCIAL-DEMOCRATA?


No passado sábado, o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) esteve em Anadia. Foi até lá para dar o seu apoio "à luta do povo de Anadia" contra o encerramento das urgências e do "seu" hospital. Aproveitou para fazer um discurso inflamado contra as políticas "neo-liberais" do ministro Correia de Campos e recordou a luta de outras populações contra o encerramento de hospitais, maternidades e urgências determinadas pelo ministro da Saúde, incluindo a de Elvas que hoje goza o prazer de ver as suas mulheres parirem em Badajoz. O "comício" culminou com um forte e apertado abraço ao presidente da Câmara Municipal de Anadia, o "Prof." Litério Marques. Há dias, nesse mesmo local estivera o presidente do PSD, Luís Filipe Menezes, exactamente para o mesmo efeito.

Eu já tinha reparado que, aos poucos, depois da expulsão dos comunistas que destoavam, o PCP caminhava para a sua restalinização. Primeiro foi a substituição de um quadro como Carvalhas por operário como Jerónimo, depois seguiram-se as declarações de Bernardino Soares e a promoção de uns jovens fiéis do aparelho nascidos depois do 25 de Abril; mais recentemente foi a substituição incompleta de uns quantos deputados do seu grupo parlamentar para efeitos de "renovação", como aconteceu com Odete Santos e um ex-autarca alentejano, a que se seguiu depois o episódio Luísa Mesquita e, mais recentemente, a luta contra Correia de Campos e o subtil afastamento da liderança da CGTP, em vias de confirmação pela sua não recandidatura, de Carvalho da Silva. Quem tiver acompanhado a forma como as coisas foram evoluindo já não duvidará do que se está a passar.

Mas o que é deveras notável é que Jerónimo de Sousa e os seus camaradas do partido não só continuem a pensar que o muro de Berlim ainda não caíu, como, ao mesmo tempo, sejam capazes de assegurar um combate político contra Sócrates tendo ao seu lado, pois, é isso mesmo, na mesma trincheira, o PSD de Luís Filipe Menezes, o tal líder que em Julho dizia que nunca faria alianças com o CDS/PP e que agora escancarou as portas a um entendimento com o PP de Paulo Portas.

Aquele sentido abraço entre Jerónimo de Sousa e o "Prof." Litério Marques, efusivamente aplaudido pela populaça, diz tudo sobre o PSD actual e o PCP de Jerónimo de Sousa: o que os une não é, efectivamente, o interesse público ou uma causa comum em defesa das populações. O cimento que selou o abraço entre ambos foi o populismo puro e duro que hoje já não distingue Luís Filipe Menezes de Jerónimo de Sousa ou estes dois de Paulo Portas. Tudo serve para mobilizar as populações contra o governo de Sócrates desde que sirva para atacá-lo e daí seja possível retirar dividendos políticos a curto prazo para os respectivos partidos, criar instabilidade e marcar pontos contra Correia de Campos ou qualquer outro ministro. A conjuntura política e o discurso aproximou-os.

Manifestações como a do passado sábado constituem um atentado contra a democracia, subvertem o seu espírito, geram a confusão no eleitorado e não aproveitam a ninguém. Mas para eles isso pouco importa. O importante era mostrar a todo o país o efusivo abraço entre Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, e o presidente de câmara reeleito pelo PSD, com maioria absoluta, numa autarquia onde o PCP não conseguiu eleger um único vereador nas últimas eleições autárquicas.

Por isso mesmo, também, é que aqueles que antes atacavam Sócrates - e eu não gosto do homem - por ter uma licenciatura obtida numa universidade de pergaminhos muito duvidosos, com umas provas feitas por correspondência no intervalo da política, dizendo que nem sequer podia usar o título de engenheiro, são os mesmos que agora abraçam e aplaudem o "Prof." Litério Marques".

"Prof." sim senhor, que o homem até podia ser um professor doutor, como eu estava convencido depois de ouvir toda a gente chamar-lhe "Professor", dele assim ter sido tratado pela madame Fátima Campos Ferreira e de eu ler a página oficial do Município da Anadia. Mas havia logo de vir o Povo Livre lixar isto tudo. Então não é que a edição n.º 1220, de 3 de Julho de 2000, publica uma lista de candidatos do partido e nela inclui o "Prof. Litério Marques"? Afinal o homem não é um cidadão habilitado por um grau académico para usar o título de "Professor", mas antes um honrado professor do ensino básico?

Como diria o outro, "chapéus há muitos". É certo que também podiam ser palermas ... ou outra coisa qualquer..., bom, é melhor ficar por aqui ou ainda acabo a falar na ASAE.

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