Já o dissera antes. Volto a reafirmá-lo. Cavaco Silva tem-me surpreendido pela positiva. A declaração de Ano Novo, pela sua insatisfação e inconformismo revelados, pela forma elevada como situou o discurso e as suas preocupações, sem pôr em causa o exercício da acção governativa e as metas programadas, coloca-o ainda mais próximo dos portugueses. Não que a declaração trouxesse algo de novo ou que não se soubesse já, mas antes porque parece ser essa, infelizmente, a única forma de alguns senhores tomarem atenção ao que se passa no país real. A começar por Correia de Campos que, finalmente, parece compreender que a sua mensagem e o estilo com que tem sublinhado as reformas na Saúde não colhem e que há muito se distanciaram dos objectivos e preocupações da maioria dos cidadãos. A Educação e a Justiça são pechas velhas deste país que têm vindo a agravar-se com mudanças pouco pensadas e uma produção legislativa aberrante. Os salários principescos de alguns gestores cujas qualificações e méritos são altamente discutíveis, também não são novidade. Mas é bom vê-lo sublinhado da forma por que o foi pelo Presidente da República. Talvez fosse, pois, altura de José Sócrates pensar em convocar uns novos Estados Gerais para tomar o pulso à situação, preparar uma renovação cirúrgica e mergulhar no país real, deixando de se enredar no discurso distanciado, oportunista e sobranceiro de alguns dos seus mais próximos conselheiros. O País exige-o.
P.S. Longe da arrogância de que noutros tempos e enquanto primeiro-ministro o caraterizava, gostei de ver a forma discreta como o Presidente da República se apresentou e almoçou no Sueste (Ferragudo), no dia de Ano Novo. Sem ostentação, atravessando de forma rápida e sorrateira o restaurante até se instalar com a família numa mesa ao fundo, junto ao vidro. A segurança, também ela desprovida de pompa, esteve irrepreensível. Para quem ainda há dias era confrontado com a paranóica ostentação de uns quantos ditadores africanos, se recorda do espalhafato de alguns medíocres insignificantes de cada vez que vêm ao Algarve jogar golfe ou almoçar, ou da verve ignorante de alguns putativos líderes regionais (hoje percebo melhor porque não gostam dele), não deixa de ser reconfortante ver em Cavaco Silva mais um como nós.
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