quinta-feira, dezembro 27, 2007

MENSAGEM DE NATAL


Sempre me ensinaram, quem sabe se sem razão, que a quadra natalícia era uma altura dedicada à família, à reflexão, à comunhão, à oração - para o que sabem rezar e rezam - e para estarmos com os que nos são queridos. Bem sei que nas últimas décadas este espírito tem vindo a abandalhar-se e a época tornou-se numa imensa feira, em que milhões se esgadanham para comprar, vender e encher os contentores de lixo e as ruas de papéis, de restos de comida e de garrafas vazias. Mas que esse abandalhamento se tenha tornado numa ocasião assumida pelo poder político, num Estado soberano e laico, para manifestações de propaganda política, parece-me bizarro e obsceno. O mal não é novo e tem sido cultivado entre nós por todos os nossos primeiros-ministros, até pelos que sendo laicos, são também republicanos e socialistas. Mas eu não embarco neste festival de propaganda e de promoção pessoal. Ainda mais por me sentir socialista. Daí que continue a pensar, agora com redobrada convicção, que deviam ser proibidas as mensagens de Natal e de Ano Novo que extravasassem esse âmbito, quer dizer, que sejam mais do que simples mensagens de boas festas. Durante alguns anos escapei a este suplício por parte dos nossos primeiros-ministros e presidentes da República. Mas tinha que gramar com as mensagens de cariz idêntico do general Rocha Vieira que com o ar pungente do sacristão pecador que levou o ano a engordar-se e aos seus amigalhaços, ao mesmo tempo que ia tramando os seus conterrâneos com um sorriso nos lábios, depois chamava a subserviente TDM (Televisão de Macau), manipulada pelo tenente-coronel Salavesa da Costa, e em dez minutos fazia um acto de contrição e passava uma esponja sobre o assunto. A Maria Rui, como excelente profissional que é, sabe de cor do que estou a falar, tanto mais que até viveu em Macau, e também sabe como estas coisas se fazem. Por isso já devia ter dito a José Sócrates que as coisas não se fazem assim. Uma mensagem de Natal ou de Ano Novo não pode, sob a capa da mensagem alusiva à quadra, tornar-se num comunicado sobre as realizações políticas do ano que passou, debitando estatísticas, fazendo mea culpa das asneiras próprias, exultando as realizações bem sucedidas e anunciando estratégias para o ano seguinte como se se tratasse de uma comunicação na Assembleia da República ou de uma intervenção no jantar de Natal dos militantes do partido. Isso seria bom para o Ribau Esteves ou para o Santana Lopes (o Menezes não existe). Se há coisa que não suporte é a estupidez e a hipocrisia. Querer fazer de uma mensagem de Natal ou de Ano Novo aquilo que ela não é nem nunca poderá ser eriça-me os pêlos. Chateia-me. O resto é querer fazer dos outros parvos e colocar o partido no sítio errado à hora errada.

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