domingo, dezembro 09, 2007

INDUZIR EM ERRO

A manchete de ontem do Expresso referia que o empréstimo aprovado pela Câmara e pela Assembleia Municipal de Lisboa era "ilegal". E justificava tão espampanante título com um parecer ou opinião veiculado pelo administrativista Fausto Quadros e uma fotografia de dimensões muito razoáveis do presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Depois, quando se lia a notícia na página 4 do 1º Caderno, verificava-se que, afinal, o problema, segundo Fausto Quadros, é apenas de votação. Isto é: tem a ver com a formação da maioria necessária para a sua regularidade formal. O Expresso acaba depois por esclarecer que o problema se resolve com uma nova votação. Quer isto dizer que a manchete não tinha qualquer fundamento. Confundir a necessidade de uma segunda votação por eventual insuficiência de votos com uma pura e simples ilegalidade não é ingénuo. As consequências de uma ilegalidade substancial, por violação da lei das autarquias locais, são bem diferentes de uma mera irregularidade formal atinente à votação. A manchete do Expresso não é, pois, ingénua nem inócua. E não sendo mera incompetência, tanto mais que a escolha e os títulos das primeiras páginas não são decididos por um qualquer servente, a única coisa que se pode pensar é que ali há má fé. E isso é muito grave numa imprensa que se quer respeitada e respeitável. Por isso mesmo, aconselha-se a direcção do Expresso a rever, com urgência, esse magnífico filme de Marco Bellochio "Sbatti il mostro in prima", de 1972, com Gian Maria Volonté e música de Ennio Morricone. O filme passou aqui em Portugal no final dos anos 70 sob o título "O Monstro da Primeira Página", integrado num ciclo da Cinemateca sobre jornalismo, no velhinho Palácio Foz. Há lições que um jornalista nunca devia esquecer.

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