terça-feira, outubro 16, 2007

MORRER SEM SENTIDO

(fonte: Inspecção Geral do Trabalho)

Acabo de saber que esta tarde ocorreu mais um acidente de trabalho mortal em Portugal. Desta vez foi em Setúbal. Por causa da limpeza de uma vala. Seja devido à queda de um muro, a um deslizamento de terras ou por uma inusitada descarga eléctrica, como ainda há dias ocorreu, salvo erro numa obra da REN, o facto é que se continua a morrer muito neste país em razão dos acidentes de trabalho. Bem sei que azares há muitos, mas o laxismo e a forma displicente como tudo continua a ser feito são os mais evidentes sintomas do nosso subdesenvolvimento, do nosso atraso, da nossa incapacidade para mudarmos. São homens na força da vida que desaparecem, são mulheres que ficam viúvas, são miúdos que se vêem órfãos de um momento para o outro. Muitos desses infelizes é gente que saiu das suas terras para ganhar o pão entre nós. Gente que fugiu à miséria, que veio à procura de um sol melhor. Gente que confiou em nós, gente que acreditou neste país mais do que muitos portugueses acreditam. Gente cujos sonhos acabam invariavelmente no fundo de uma vala ou perdidos numa súbita descarga eléctrica. Neste país morre-se na estrada, morre-se nos campos, morre-se nas cidades, morre-se em todo lado. E também já se morre por tudo e por nada. Neste país morre-se jovem. Morre-se todos os dias. Neste país morre-se sem sentido. É triste viver num país assim.

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