O resultado das eleições directas no PSD, que conduziram à escolha de Luís Filipe Menezes como novo líder do partido, constitui mais um sinal do desnorte a que chegou o maior partido da oposição. Menezes não é Péricles e a ilusória vitória das bases não representa a chegada ao poder de uma nova geração saída da massa, de gente qualificada que estava na sombra ou um desafio consistente ao socratismo reinante. Basta olharmos para a sua entourage, a mesma que vibrantemente o aplaudiu na madrugada de sábado, e rapidamente se perceberá que aqueles que o partido afastou ontem, pelas piores razões, são aqueles que hoje se manifestam solidários e satisfeitos com a sua vitória, eles que são os que mais acreditam num regresso à tirania dos interesses, àvidos de poder e de reconquista das sinecuras que a ascensão do PS, feita à custa de um incompetente Barroso e de um desastrado Pedro Santana Lopes, lhes retirou. Com Menezes reabilitam-se os clientelismos regionais, de que ele próprio e Mendes Bota constituem os melhores paradigmas. Um a norte e o outro a sul. Com o novo líder do PSD regressam também homens como Martins da Cruz, que depois de ter saído do Governo pela porta dos fundos - tentou meter uma cunha ao ministro da Educação para a filha entrar na faculdade de Medicina - e de ter arranjado um lugar que lhe desse visibilidade em Gaia, está já pronto para se filiar no partido e fazer carreira com Menezes; Nuno Delerue, o ex-mandatário para a juventude de Mário Soares que passou pelo governo de Macau no tempo de Pinto Machado e que tendo sido demitido pelo Presidente da República acabou empresário e deputado nas listas do PSD; Barreiras Duarte, o tal que se manifestava contra as portagens no Oeste quando estava na oposição e que ao chegar ao Governo logo mudou o discurso; ou o ostracizado Duarte Lima - ainda se lembram do célebre caso da compra e venda de uma quinta em Sintra? Escusado será falar na satisfação que deu a alguns conhecidos arguidos em processos de corrupção e de tráfico de influências a eleição do companheiro Menezes. Ele que se prepara agora para começar a arrumar as suas tropas, em especial para acalmá-las e pedir-lhes contenção até às próximas eleições, preferindo antes multiplicar-se em iniciativas que lhe dêem visiblidade e o ajudem a conquistar o "país real". Não vale a pena ter ilusões: vem aí o discurso do coitadinho, do pensionista, do desempregado, do peso do fisco ou das tropelias na educação e na saúde. Enfim, de momento parece ser politicamente correcto falar numa vitória de Menezes e das bases do partido, embora eu veja sim um belíssimo resultado do António Cunha Vaz. Duvido é que, ao contrário do que alguns bem intencionados pensam, essa vitória seja um resultado contra os chamados barões do partido. Trata-se, isso sim, de um triunfo dos capatazes, de uma manifestação de impaciência pelos longos anos de afastamento do poder que se avizinham e que Marques Mendes nunca conseguiu iludir. Sabe-se que "enquanto o pau vai folgam as costas", pelo que a vitória de Menezes poderá, a médio prazo, traduzir-se numa vitória de Pirro para todos aqueles que apostaram nele. Até lá, seguramente, haverá mais agitação e mais animação no debate político. Admito, inclusivé, que isso venha a motivar e a mobilizar gente mais capaz para participar na vida pública. Mas por agora, além da muita espuma que se vê, o que abunda é gente ansiosa pela criação de novos baronatos.
P.S. Aguardo com natural expectativa as reacções de Alberto João Jardim e de Guilherme Silva e a forma como se vão posicionar nos próximos meses. A ver se é desta que conseguem fazer um duplo mortal à rectaguarda.
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