quarta-feira, maio 16, 2007

A RAZÃO DO FIM DA INDEPENDENTE


O Diário de Notícias revela hoje que "o acesso às carreiras mais altas da função pública vai deixar de exigir licenciatura aos candidatos" e que esta é "uma das novidade do novo regime de vínculos, carreiras e remunerações que se encontra em fase final de negociação e que deverá dar entrada na Assembleia da República até final de Junho de modo a entrar em vigor em Janeiro do próximo ano". Ou seja, se antes havia algum controlo, pelos menos em matéria de habilitações para os cargos técnicos da Administração Pública, agora isso vai alterar-se. Recordo-me que aqui há uns anos o governador de Macau, se não me falha a memória já era Rocha Vieira, alterou uma norma que impedia o acesso de não licenciados aos gabinetes do governador e secretários-adjuntos e que a partir daí qualquer Afonso passou a poder virar assessor e adjunto. O nepotismo nunca teve tanta força como então, com mulheres, filhos, sobrinhos e afilhados a trabalharem nos gabinetes uns dos outros. Não quero agora pensar que em Portugal um governo socialista com exigências de rigor irá fazer o mesmo que se fez naqueles anos terminais da Administração Portuguesa em Macau, mas vendo a forma como alguns jovens continuam a arranjar emprego no Estado e nas autarquias, não deixa de ser curioso o paralelo. Afinal de contas, se o canudo da Independente não serve para nada, o melhor mesmo é nenhum servir para nada, nivelar por baixo e acabar com a exigência de qualificações académicas. Pena é que isso não tenha sido feito mais cedo. Escusava José Sócrates de ter passado pelo enxovalho por que passou, ou Vara ou Seguro ou outro qualquer terem tido o trabalho de acabar os cursos. Qualquer merceeiro, com todo o respeito que estes me merecem, vai fazer uns cursos daqueles que algumas instituições organizam para os amigos e fica tudo resolvido. Depois é só concorrer. Um dos autores do relatório que propõe tal medida chama-lhe "inteligência prática". Eu chamo-lhe "esperteza saloia". Anda um tipo a perder tempo a tirar uma licenciatura, a fazer pós-graduações, mestrados e estágios de anos não remunerados, quando vai ser tão fácil arranjar um emprego como "técnico superior". Todos ignorantes, mas todos com emprego. Assim é que é.

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