sexta-feira, fevereiro 23, 2007

A COR DA PROMISCUIDADE E DO CLIENTELISMO




Aos poucos, mas de forma inexorável, a Câmara Municipal de Lisboa e a estrutura lisboeta do PSD vão-se desfazendo.

Depois dos episódios Gabriela Seara e Fontão de Carvalho, continua a fazer-se a história do clientelismo e da promiscuidade política na capital.

Agora veio à baila o caso da Gebalis e a actuação dos seus responsáveis, entre os quais o vereador Sérgio Lipari Pinto. Depois de ter regressado de Macau, onde passou um bom par de anos, o senhor vereador começou a dar cartas na junta de freguesia de S. Domingos de Benfica. Fura-vidas, paciente na realização dos trabalhos de casa, foi semeando amizades "à chinesa", distribuindo benesses, trazendo mais militantes para o PSD, fortalecendo o partido, ajudando à sua implantação em zonas difíceis, seguindo o exemplo de António Preto, de quem, aliás, foi um dos delfins na Faculdade de Direito de Lisboa. Chegou, à custa da política, a administrador de empresa municipal e, por fim, a vereador. Fez a tarimba do partido, cresceu, impôs-se. De repente, ficamos a saber que inundou uma empresa municipal de militantes do partido, distribuiu tachos e favores a eito. Na hora do aperto quis passou a bola a outros, neste caso o Tribunal de Contas e a Inspecção Geral de Finanças. Não compreendo.

A seguir foi a vez de Amaral Lopes, um homem culto e inteligente, vir dizer que considerava normal que o vice-presidente da Câmara, Fontão de Carvalho, tivesse omitido deliberadamente aos seus pares que tinha sido constituído arguido por suspeita da prática de um crime de peculato. Será isto a lealdade para com os seus pares? E é isso aceitável por estes? Para Amaral Lopes parece que sim. Não compreendo.

E como se isso não fosse já o bastante para nos começarmos a beliscar, ainda ficámos a saber que a reunião de ontem da vereação lisboeta foi inconsequente, porque, pasme-se, o dito Fontão de Carvalho ainda não tinha formalizado o seu pedido de suspensão do mandato. Presumo eu que por falta de tempo, pois que certamente tinha outras coisas mais importantes para tratar do que formalizar aquilo que publicamente anunciara há uma semana atrás. Não compreendo.

E que faz Marques Mendes? Ri-se? Chora? Não, nada disso, tece loas a Alberto João Jardim para não dar trunfos à oposição.

Não quero estar a antecipar juízos de valor, nem estar a apontar injustamente o dedo aos visados. Em especial, porque, além do mais, tenho estima e amizade em relação a um deles, que chegou a ocupar o meu lugar no Conselho Pedagógico da Faculdade de Direito quando de lá saí, e cujo voluntarismo admiro, o que, em todo o caso, não se confunde com as minhas opiniões políticas, com o percurso de cada um, nem com as posições públicas que cada um assume. Sei é que o ar da política portuguesa se torna cada vez mais irrespirável e que são poucos, muito poucos, os que hoje conseguem sobreviver fora dos habituais esquemas de compadrio e clientelismo. É a prova de que na política, na advocacia ou nos negócios, nada se perde, quase tudo se transforma. A começar pelo carácter, sendo poucos os que insistem em porfiar. Mas estes foram há muito condenados ao ostracismo de uma secretária, à solidão de um computador.

No caso vertente, está em causa o PSD e os seus homens de Lisboa (embora Fontão seja um "independente"). Mas o mal é geral e atravessa todos os partidos. De Salvaterra de Magos a Felgueiras ou de Silves a Lisboa. Isto quer dizer que a promiscuidade não escolhe partidos nem regiões. Não tem coração. Tem apenas um cartão, um número de telefone e, por vezes, também tem um nome. Cor também não me parece que tenha. Mas tem cheiro. E este é nauseabundo. Mesmo quando vem disfarçado com uma gravata de marca e um toque de colónia. É triste, muito triste.

Em tempo:
Transcreve-se a notícia abaixo, a qual foi publicada no Independente, em 30 de Julho de 2004, há quase 3 anos atrás, e que fui agora descobrir no Minha Rica Casinha:


"A Gebalis, empresa de gestão de bairros sociais da Câmara de Lisboa, já contratou mais de 20 militantes da secção A do PSD-Lisboa.Desde já se avisa que a história é pouco edificante. A Gebalis, empresa da Câmara de Lisboa responsável pela gestão dos bairros sociais da capital, engordou drasticamente nos últimos dois anos. Durante a gestão socialista tinha pouco mais de uma centena de trabalhadores. Hoje. passados dois anos da vitória de Pedro Santana Lopes em Lisboa, tem mais de 240 quadros. O Independente apurou que perto de 40 dos novos assalariados são militantes do PSD e que mais de 20 vêm directamente da secção A do PSD, a de Benfica, liderada por Sérgio Lipari Pinto, que acumula funções com as de director-geral da Gebalis e presidente da Junta de Freguesia de S. Domingos de Benfica.A secção A tomou-se, de facto, uma verdadeira agência de emprego. Mas não é a única: a Gebalis contratou militantes nas secções B (Campo Grande) e F (Belém) e nas secções de Odivelas, Moscavide e Oeiras. A própria presidente da Gebalis, Eduarda Rosa, é militante da secção F e casada com o presidente da Junta de Freguesia de Belém e também presidente da secção F, Fernando Rosa.Oeiras é a secção do PSD onde milita Helena Lopes da Costa, a vereadora de Lisboa com a tutela da Gebalis, cargo que acumula com a vice-presidência do PSD e da distrital do PSD/Lisboa. Mas o grande protagonista desta história de aparelho é mesmo Sérgio Lipari Pinto. Fiel aliado de António Preto, actual líder da distrital de Lisboa, que também já foi presidente da secção A, Lipari acumula o cargo partidário com a presidência da Junta de Freguesia de Benfica e o cargo de director-geral da Gebalis.Na empresa camarária, que gere todos os bairros sociais de Lisboa, é voz corrente que a presidente Eduarda Rosa pouco ou nada manda, em detrimento do seu multifacetado director-geral. Para tal cenário contribuiu a entrada dos mais de 20 militantes da secção A na empresa, apesar de muitos deles terem sido contratados antes de Lipari ser o presidente da secção partidária.Em declarações ao Independente, o gabinete da vereadora Helena Lopes da Costa limitou-se a considerar que o número de militantes do PSD a trabalhar na Gebalis "não é assim tão alto" e que na empresa da câmara "não se olha à filiação partidária mas sim à competência" .Lipari declinou fazer qualquer comentário.Na lista de quadros da Gebalis há militantes laranja de todas as profissões: relações públicas, secretárias, engenheiros, assessores, técnicos de intervenção local, directores de serviços, motoristas, e até um contínuo. A "secção A, SA", também conhecida por Gebalis, é, de facto, uma grande família.”

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