quinta-feira, novembro 16, 2006

RENDIDO AO CAPITALISMO


Vi esta manhã um anúncio no Público pelo qual os leitores ficaram a saber que José Saramago comparecerá amanhã no El Corte Inglês. Para uma sessão de autógrafos do seu último livro. Quem diria, aqui há uns anos atrás, que Saramago, empedernido comunista, famoso pelas suas diatribes no tempo em que foi director do DN, amigo de Álvaro Cunhal e visita de Fidel, acabaria em sessões de autógrafos num dos templos do capitalismo ibérico. A ver se vende mais uns livros e se ganha mais umas coroas. Existisse o El Corte Inglés em 1975 e certamente que teria sido intervencionado pelos seus trabalhadores. Saramago teria então aplaudido. Hoje, o El Corte Inglês, que tem sido notícia pelas manifestações à sua porta de activistas ecologistas que combatem o uso de peles naturais – são famosos os visons da Saga Mink vendidos por essa empresa –, vai receber com pompa e circunstância o laureado do Nobel. Não há nada como gozar as benesses do capitalismo selvagem e da sociedade de consumo, enquanto pelo canto do olho se vê a miséria que grassa e se debita à comunicação social meia dúzia de palavras simpáticas. Para os pobres. Para os deserdados do El Corte Inglés. O capitalismo também faz milagres. Saramago que o diga.

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