Uma reportagem da SIC e uma notícia de jornal permitiram-nos ficar a saber que o último anúncio televisivo da Caixa Geral de Depósitos custou a módica quantia de 16 milhões de euros. Refiro-me, naturalmente, ao filme promocional que contou com a participação do seleccionador nacional de futebol, o senhor Scolari.
Rezam as crónicas que o BPN, que já havia utilizado anteriormente a imagem do senhor Scolari, ficou incomodado com a mudança. Eu só fiquei incomodado com o custo do anúncio. Convenhamos que utilizar 16 milhões de euros na realização de um filme em que o senhor Scolari nos aconselha a sermos fãs da vizinha, com tudo o que isso envolve e sem que ele saiba se a minha vizinha é nova ou velha, se tem um sorriso pepsodent ou se é desdentada, se é parecida com a Penélope Cruz ou se tem um proeminente buço, é de muito mau gosto.
Bem sei que a publicidade e o marketing são hoje em dia componentes fundamentais de qualquer actividade comercial ou industrial. E que até em relação a actividades que se supunha estarem à margem desses negócios, por não serem actividades comerciais stricto sensu, se tem vindo a assistir a uma crescente influência daqueles. É o que sucede com a advocacia. Paulatinamente, e mercê das cada vez mais disseminadas concepções mercantilistas do seu exercício, que querem transformar os escritórios em salsicharias, já se assiste à aceitação e contemporização com práticas que até há relativamente pouco tempo eram inaceitáveis para a maioria dos advogados. Sinais dos tempos. Porém, esta é apenas uma vertente do problema com a qual, melhor ou pior, nos vamos aguentando.
O que já absolutamente indecoroso, é que a CGD se predisponha a gastar, em tempos de crise, 16 milhões de euros, a realizar um filme publicitário. Seja com o senhor Scolari com protagonista ou tivesse sido com qualquer outro figurão, a gravidade do caso é a mesma.
Mesmo que o dr. João Salgueiro não quisesse, esta é a melhor prova de que os bancos não têm qualquer razão quando reclamam contra as políticas do ministro Teixeira dos Santos ou quando o presidente da Associação Portuguesa de Bancos vem dizer que os seus associados não irão devolver aos seus clientes o que cobraram a mais nos arredondamentos.
É que, quer se queira quer não, é à custa dos contribuintes e dos seus clientes, os quais, de cada vez que recorrem a um empréstimo, são esportulados até à medula, que a CGD e os outros bancos do sistema financeiro português, gastam somas indecorosas em campanhas publicitárias. Pode ser que quando começarem a pagar mais impostos também comecem a ser mais criteriosos na gestão e no gasto dos lucros que realizam. A não ser que para o dr. João Salgueiro estes 16 milhões agora gastos pela CGD constituam um investimento produtivo. No bolso do senhor Scolari serão de certeza. E na vizinha dele também!
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