terça-feira, outubro 10, 2006

TROPA FANDANGA

O Diário Digital relata hoje a detenção, nos Açores (sempre o anticiclone), de um coronel que tinha na sua posse uma molhada de armas e munições, e, imagine-se, "viaturas e mobiliário".
Se bem se recordam esta detenção segue-se a algumas outras, na semana passada, de militares da Armada que, ao que dizem, nisto de culpa não há nada como o in dubio pro reo, tinham também uns cambalachos.
De tempos a tempos lá vêm uns fumos de corrupção do lado das fardas. O mal parece mesmo ser geral e nenhum ramo das Forças Armadas ou corporação militarizada está imune.
Há uns anos, andava eu pelos Orientes, onde no meio dos porcos voadores também vi uns tipos daqueles que despem a farda quando se trata de fazer negócios e obter as mordomias de alguns civis, para logo depois, passado o tempo das vacas gordas, voltarem a vesti-la, quando me apercebi que alguns comportamentos e atitudes eram pouco compatíveis com o estatuto. Não, não estou a pensar no tenente-coronel a quem chamam "doutor". Deixem lá o homem em paz!
Depois, tendo eu regressado a Portugal e necessitando de um local para morar (as minhas patacas não se reproduziam!), andei para aí à procura de casa, até que encontrei um major que fazia moradias em conta, em Cascais, e vendia ouro e relógios para os lados da Parede. Nunca percebi bem como é que aquilo era, porque o tipo dava aulas e mandava faxes da respeitável instituição militar onde trabalhava com minutas de contratos-promessa de compra e venda. Aquilo fez-me espécie, mas como não era nada comigo. É claro que o caldo se entornou quando eu percebi que o marmanjo queria fazer uma escritura de um imóvel por um quarto do valor que pedia. E isto depois de eu lhe ter dito que cá comigo não há nada por baixo da mesa. Não gostou do que lhe disse e vai daí amuou.
Conheço muito boa gente nos três ramos das Forças Armadas, na GNR e na PSP. Tenho mesmo muitos e bons amigos que envergam uma farda com brio, denodo, elevadíssimo espírito militar e que, além de serem excelentes companheiros, são cidadãos exemplares.
Creio ser uma tremenda injustiça que militares sérios, como os meus amigos, vejam o seu nome metido no mesmo saco desta tropa fandanga que passa os dias a tratar da vidinha e para quem o sentido do dever se escreve, invariavelmente, com €uros e muitos zeros.
A "guerra de África" acabou vai para mais de trinta anos. Macau passou à História há quase sete anos. Mas os fumos de corrupção continuam. Ou seja: continua a haver muitos bois, ainda por cima fardados, à volta das manjedouras. Só assim se compreende que para além de armas, também invistam em "viaturas e mobiliário".
É pois tempo de se começar a separar o trigo do joio.
De outro modo, mais tarde ou mais cedo, a ração irá faltar. E nessa altura eu quero ver quem é que segura a malta da caserna.

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