sexta-feira, setembro 22, 2006

COMPROMISSO PORTUGAL

Os senhores do designado "Compromisso Portugal" estiveram ontem reunidos no Convento do Beato e durante todo o dia tiveram direito a largas horas de tempo de antena.
À noite, na SIC Notícias, lá estiveram quatro das figuras gradas do movimento a debitar as suas "ideias". Eu pasmo com a facilidade com que neste país se bota discurso.
De economia não falo, mas não posso deixar de admirar as propostas para a Justiça.
O responsável por essa área quando questionado pelo jornalista sobre as propostas em concreto limitou-se a debitar meia dúzia de generalidades perfeitamente inócuas.
A única proposta que dali saiu foi a da profissionalização da gestão dos tribunais e a sua entrega a gestores profissionais. A avaliar por aquilo que está a acontecer na Saúde e com a forma como a gestão de algumas entidades desta área têm sido profissionalizadas, temo que amanhã tenhamos um desses gestores profissionais, seguramente um economista, engenheiro ou gestor, a dizer que o juiz não pode continuar a elaborar sentenças com 30 páginas, que se estão a gastar demasiados tinteiros e que que há que poupar nas cassetes das gravações das audiências.
Pessoalmente, creio que alguns daqueles senhores do Compromisso Porrtugal deviam ter vergonha, porque bastaria ir a algumas das suas empresas para ver como as coisas são tão burocratizadas como na função pública e como os direitos dos consumidores são vilipendiados. A começar na Vodafone do senhor Carrapatoso. Dou-vos só um pequeno exemplo: sendo titular de vários telemóveis, tenho um deles associado a uma conta que me obriga a fazer carregamentos todos os 30 dias. Acontece que estando eu de férias, de um momento para o outro fiquei sem conseguir fazer chamadas e ouvia uma mensagem que dizia que o serviço tinha sido desactivado por eu não ter feito um carregamento. Ora, acontece que além de não se ter ainda completado o período de 30 dias (faltavam algumas horas para isso acontecer), o telemóvel tinha saldo disponível mais do que suficiente para efectuar qualquer chamada. No final desse dia, ou seja, dez horas depois de me terem cortado o acesso à rede recebi um sms a dar-me conta do corte por falta de pagamento. Fiquei, pois, a saber que para a Vodafone o dia não tem exactamente 24 horas, pelo que 30 dias podem ser 29 dias e pouco, e que ao invés de me ter passado a facturar as chamadas por um valor qualquer mais elevado (por exemplo aplicando a tarifa mais alta da sua rede a título de penalização), se fosse o caso, por terem sido ultrapassados os 30 dias sem efectuar o carregamento, que é o que seria lógico, os serviços da excelente empresa do senhor Carrapatoso acharam por bem, pura e simpesmente, cortar-me o acesso ao serviço. A isto chama-se abuso, prepotência.
E quem fala na Vodafone fala na TVCabo, na PT, nalgumas seguradoras, nalguns bancos, nos CTT (o preço do envio de um fax ou da certificação de fotocópias é um "roubo"), enfim numa série de empresas privadas ou/e privatizadas, que estão habituadas a deixar os consumidores pendurados na linha a ouvir música, que sistematicamente se enganam na facturação e que quando o consumidor tem de reclamar ainda tem de pagar a chamada da reclamação.
Os senhores do Compromisso Portugal, alguns dos quais exalam snobismo e pesporrência (aquela do senhor presidente do BES Investimentos querer exemplificar a excelência das suas ideias com o apoio de dois ex-ministros, um irlandês e um espanhol, é de bradar aos céus), antes de se porem a mandar bocas, deviam olhar para o seu próprio umbigo. De bazófia estamos todos cheios.
Dali não virá, seguramente, nada de útil ao país.

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