quarta-feira, julho 03, 2013

Graças ao Luís Brandão

 
Mantens-te de pé como uma torre infeliz. Um coração sem alento
conserva-te vivo, desoladoramente vivo, obscuramente ineficaz.
O que buscas no bosque não é uma árvore, nem uma rosa silvestre.
O que buscas, o que desejas para ti, não é teu. O objecto do teu sonho não é senão o fruto do trabalho daqueles que não têm tempo para sonhar. Já não conversas com os vivos, as tuas palavras ostentam um brilho inútil, lembram-me uma candeia tentando iluminar o sol.
O teu cansaço é o de uma orquestra que acabou o concerto e não recebeu um único aplauso, a não ser o dos músicos que elogiam o seu maestro. O público já te virou as costas e sai com a frustrada sensação de um espectáculo medíocre, de um
tempo perdido.
Não te manterás de pé por muito tempo.

Joaquim Pessoa, in ANO COMUM.

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