terça-feira, abril 23, 2013

Mentes cativas

"Mas o 'mercado' - tal como o 'materialismo dialéctico - é apenas uma abstracção: simultaneamente ultrarracional (a sua argumentação supera tudo) e o apogeu do absurdo (não pode ser questionado). Tem os seus verdadeiros crentes - pensadores medíocres quando comparados com os pais fundadores, mas ainda assim influentes; os seus compagnons de route - que em privado podem duvidar dos princípios do dogma, mas não vêem alternativa a pregá-lo; e as suas vítimas, muitas das quais nos EUA, em especial, engoliram pressurosamente o seu comprimido e proclamam aos quatro ventos as virtudes de uma doutrina cujos benefícios nunca verão.
 
Acima de tudo, a servidão em que uma ideologia mantém a sua gente mede-se melhor pela sua incapacidade colectiva para imaginar alternativas. Sabemos muito bem que a fé ilimitada nos mercados desregulados mata: a aplicação estrita do que há até pouco tempo, em países em desenvolvimento vulneráveis, se chamava o 'consenso de Washington' - que punha a tónica numa política fiscal rigorosa, privatizações, tarifas baixas e desregulamentação - destruiu milhões de meios de subsistência. Entretanto, os 'termos comerciais' rígidos em que estes remédios são disponibilizados reduziram drasticamente a esperança de vida em muitos locais. Mas, na expressão de Margaret Tatcher, 'não há alternativa'.
 
Foi precisamente nestes termos que o comunismo foi apresentado aos seus beneficiários após a II Guerra Mundial; e foi por a História não apresentar alternativa aparente ao comunismo que muitos dos admiradores estrangeiros de Estaline foram arrebatados para um cativeiro intelectual." - Tony Judt, Mentes Cativas, em O Chalet da Memória

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