Eu já tinha chamado a atenção, no próprio dia 1 de Maio, para o inqualificável comportamento da cadeia de supermercados Pingo Doce, porque me pareceu, e continua a parecer, que a "chico-espertice" não pode continuar a reproduzir-se impunemente neste país. Não é o facto de haver alguns consumidores em situação de carência ou egoístas e dispostos a tudo que altera os dados da questão. Há valores que estão acima das estratégias empresariais, comerciais e políticas e sem os quais nenhuma comunidade poderá funcionar saudavelmente. Admito que haja quem não o compreenda, mas isso não serve de justificação para que se admita tudo.
É claro que aquilo que o Pingo Doce fez não é sequer parecido com os saldos que se fazem em Nova Iorque ou em Londres, porque o sentido destes, a data escolhida e a legislação também é outra e não consta que quem ali os faz viole a lei.
Não querer perceber isto é não perceber a essência do problema e não é preciso ser de esquerda para ver as diferenças. Pacheco Pereira chamou prontamente a atenção para o que se tinha passado e, com excepção de um Presidente da República que antes não lia jornais e agora não vê telejornais e só se pronuncia sobre assuntos de mercearia que lhe digam directamente respeito, foi bom verificar que a democrata-cristã Assunção Cristas, ministra do actual Governo, e o insuspeito Marcelo Rebelo de Sousa também não fizeram como alguns arautos do capitalismo selvagem das sociedades liberais mais arcaicas para aplaudirem a manhosa iniciativa desse grupo empresarial.
Ao contrário do inefável Álvaro Santos Pereira, seu colega de Governo, cuja miopia o impede de ver o óbvio ululante, a ministra, como pessoa bem formada, de bom senso e inteligente, veio considerar "que estas práticas não são admissíveis" e que o quadro actual "é desiquilibrado e chocante, e o Direito deve intervir para equilibrar as relações". E sobre este mesmo assunto, o prof. Marcelo disse ontem para quem o quis ouvir que o que o Pingo Doce fez foi "uma habilidade no quadro da concorrência vigente", perguntado ademais se "queremos um capitalismo selvagem ou um capitalismo com regras"; que "não se pode vender produtos abaixo do custo efectivo", "(...) porque isso é que é grave, é capitalismo selvagem".
Ainda no sábado, no Expresso, Miguel Sousa Tavares qualificava a atitude da Jerónimo Martins como "um gesto de pura arrogância empresarial, uma operação reveladora de profundo desprezo e desrespeito pelos seus clientes, disfarçada de caridadezinha comercial".
É claro que aquilo que o Pingo Doce fez não é sequer parecido com os saldos que se fazem em Nova Iorque ou em Londres, porque o sentido destes, a data escolhida e a legislação também é outra e não consta que quem ali os faz viole a lei.
Não querer perceber isto é não perceber a essência do problema e não é preciso ser de esquerda para ver as diferenças. Pacheco Pereira chamou prontamente a atenção para o que se tinha passado e, com excepção de um Presidente da República que antes não lia jornais e agora não vê telejornais e só se pronuncia sobre assuntos de mercearia que lhe digam directamente respeito, foi bom verificar que a democrata-cristã Assunção Cristas, ministra do actual Governo, e o insuspeito Marcelo Rebelo de Sousa também não fizeram como alguns arautos do capitalismo selvagem das sociedades liberais mais arcaicas para aplaudirem a manhosa iniciativa desse grupo empresarial.
Ao contrário do inefável Álvaro Santos Pereira, seu colega de Governo, cuja miopia o impede de ver o óbvio ululante, a ministra, como pessoa bem formada, de bom senso e inteligente, veio considerar "que estas práticas não são admissíveis" e que o quadro actual "é desiquilibrado e chocante, e o Direito deve intervir para equilibrar as relações". E sobre este mesmo assunto, o prof. Marcelo disse ontem para quem o quis ouvir que o que o Pingo Doce fez foi "uma habilidade no quadro da concorrência vigente", perguntado ademais se "queremos um capitalismo selvagem ou um capitalismo com regras"; que "não se pode vender produtos abaixo do custo efectivo", "(...) porque isso é que é grave, é capitalismo selvagem".
Ainda no sábado, no Expresso, Miguel Sousa Tavares qualificava a atitude da Jerónimo Martins como "um gesto de pura arrogância empresarial, uma operação reveladora de profundo desprezo e desrespeito pelos seus clientes, disfarçada de caridadezinha comercial".
Mas para quem ainda tivesse dúvidas sobre a gravidade, numa perspectiva social, jurídica, ética e política, do comportamento da administração dos Supermercados Pingo Doce, as notícias que esta tarde foram divulgadas eliminam-nas: "Além do pagamento a 500%, os trabalhadores do Pingo Doce que estiveram ao serviço, ou em gozo de folga, no passado dia 1, podem, até final da semana, fazer as suas compras nas lojas do grupo beneficiando de um desconto de 50%, em tudo idêntico ao que os clientes usufruíram no feriado. Apenas os que fizeram greve - convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio (CESP), afeto à CGTP -, como forma de protesto contra a abertura das lojas no Dia do Trabalhador - , estão excluídos dessa iniciativa.
A confirmação de que isto também é verdade, acentua o dolo da iniciativa do Pingo Doce, da sua direcção comercial, da sua administração e, mais ainda, a irresponsabilidade do presidente do grupo Jerónimo Martins. O mesmo que acusava José Sócrates de "truques" devia saber que a ignorância da lei não aproveita a ninguém e ele não pode desconhecer alegremente o que os seus subordinados fazem, do mesmo modo que um primeiro-ministro ou um Presidente da República não podem afirmar desconhecimento sobre aquilo que é feito às claras e nos entra pela casa dentro só porque esse desconhecimento lhes é conveniente.
Recorrendo a um expediente grosseiro, a uma esperteza saloia, partindo do princípio de que os outros são parvos e que os consumidores beneficiados o absolverão, o grupo Pingo Doce não se limitou a discriminar e lançou um dos mais violentos ataques ao Estado de Direito, ao exercício de direitos sociais e laborais, à liberdade de escolha, à leal concorrência e à regulação do mercado. Fazendo-o, o grupo Pingo Doce colocou em causa os mais elementares princípios de justiça, as bases do equilíbrio social e as regras de sã convivência de uma sociedade livre e democrática.
A confirmação de que isto também é verdade, acentua o dolo da iniciativa do Pingo Doce, da sua direcção comercial, da sua administração e, mais ainda, a irresponsabilidade do presidente do grupo Jerónimo Martins. O mesmo que acusava José Sócrates de "truques" devia saber que a ignorância da lei não aproveita a ninguém e ele não pode desconhecer alegremente o que os seus subordinados fazem, do mesmo modo que um primeiro-ministro ou um Presidente da República não podem afirmar desconhecimento sobre aquilo que é feito às claras e nos entra pela casa dentro só porque esse desconhecimento lhes é conveniente.
Recorrendo a um expediente grosseiro, a uma esperteza saloia, partindo do princípio de que os outros são parvos e que os consumidores beneficiados o absolverão, o grupo Pingo Doce não se limitou a discriminar e lançou um dos mais violentos ataques ao Estado de Direito, ao exercício de direitos sociais e laborais, à liberdade de escolha, à leal concorrência e à regulação do mercado. Fazendo-o, o grupo Pingo Doce colocou em causa os mais elementares princípios de justiça, as bases do equilíbrio social e as regras de sã convivência de uma sociedade livre e democrática.
Os senhores do Pingo Doce podem pensar que o seu dinheiro compra tudo e é suficiente para pagar as ridículas multas por violação da lei, e que é preferível o salve-se quem puder à decência e ao bom senso. Pensar assim é um direito que lhes assiste. Mas antes que seja tarde e que isto entre tudo em auto-gestão, numa espiral incontrolável, seria bom, posto que o ministro da Economia já mostrou não ter autoridade para fazê-lo, que alguém lhes dissesse que há valores numa sociedade que o dinheiro não pode comprar, nem o marketing justificar. E se tiver que ser à bruta, pois então que seja, de acordo com os mecanismos legais, pois quer-me parecer ser essa a única linguagem que entendem.
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