O debate parlamentar de ontem com o primeiro-ministro e a audição do ministro Miguel Relvas revelam que a situação está a descambar. A posição de Passos Coelho é incómoda. A do ministro Miguel Relvas não é menos, mas os membros da Comissão e as notícias que saem a toda a hora para os jornais também não ajudam. Os papéis desempenhados, quer pelos deputados da oposição quer pelos da maioria, têm sido deprimentes. Uns mal preparados e com dificuldade em colocarem as questões adequadas, outros procurando tapar o sol com a peneira para safarem o ministro a qualquer preço. As pessoas parece que se estão a esquecer que o que está em causa não é o simples envio ou recepção de e-mails. Essa é uma forma simplista de ver o problema. Em causa está o acesso a informação secreta, a violação da privacidade, o uso indevido de meios legais, a existência de pressões ilegítimas, enfim, um ror de situações pouco claras e que não podem ficar no limbo apenas porque isso dá jeito a alguém, seja ele o primeiro-ministro, o ministro ou a oposição. O ministro colocou-se a jeito e não esteve à altura das responsabilidades pela forma displicente e omissiva como foi respondendo às dúvidas que surgiram ante a catadupa de factos. Fez mal porque só adensou as dúvidas. Continua a haver muita coisa por explicar e por perceber. Para o filme ser completo só falta o primeiro-ministro libertar os ex-espiões do segredo de Estado para que estes se possam defender. Essa talvez seja a melhor solução, já que aquela coisa que dá pelo nome de serviço de informações está de rastos e não virá mal maior ao mundo se deixarem Silva Carvalho e o compincha defenderem-se antes de os crucificarem. Por vezes tenho a sensação de que uns desviam as questões porque não lhes convêm e os outros não querem esclarecer as que importa esclarecer, preferindo ambos andarem às cambalhotas na espuma e enrolados na areia. Em qualquer caso estão a prestar, uma vez mais, um mau serviço à democracia.
quinta-feira, maio 31, 2012
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