terça-feira, setembro 06, 2011

RECORDAÇÕES DE VIAGEM (3)

A cidade velha comprime-se no interior das suas muralhas. Não fossem estas e as suas parecenças com Veneza seriam ainda maiores. Mas não são mera coincidência. A maior parte do que hoje se vê foi fruto da sua reconstrução após o sismo de 1667. As suas origens remontarão ao século VI, altura em que terá começado a desenvolver-se, mas foi só mo século XII que recebeu o nome de Dubrovnik, tornando-se num centro importante para o comércio e as rotas marítimas na ligação entre o Adriático e o Mediterrâneo. Mercê de acordos pontuais e do pagamento de tributos, conseguiu manter a sua independência, liberdade e relativa autonomia, primeiro com um sistema de natureza comunal e depois transformando-se numa cidade-estado, com poder legislativo total no século XV. Conhecida como Républica de Ragusa, tornou-se num estado patriarcal e aristocrático que assentava numa divisão classista entre nobreza, cidadãos e dependentes, estes últimos na sua maioria camponeses. Era governada pelo "Velijo vijece" ou Conselho Maior, composto pelos seus nobres que depois escolhiam o Conselho Menor e o Consilium Rogatorum. O símbolo máximo da autoridade era o Reitor, que rodava todos os meses e que vivia no Palácio durante o período em que exercia o mandato. A cidade começaria a perder poder e influência com o declínio de Veneza, mas no momento em que tal aconteceu já a escravatura tinha sido abolida no distante ano de 1416. Em duas breves inscrições, uma no Palácio do Reitor e outra no Fort Lovrijenac, residirão as marcas maiores do seu espírito e perenidade, não obtante todas as vicissitudes que culminaram com o cerco sérvio-montenegrino entre 1990/1991. A primeira dessas inscrições reza "Obliti privatorum - Public curate" - "Esqueçam os negócios privados, preocupem-se com os públicos"  - e a segunda diz apenas isto: "Non ben prototo libertas venditur auro". Ou seja, "A liberdade não é para ser vendida, nem por todo o ouro". Bem podíamos fazer delas as nossas divisas.

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