terça-feira, setembro 27, 2011

NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA

A imagem é do DN e ilustra uma pequena notícia sobre as declarações de Assunção Cristas a respeito da eventual privatização das águas. Pena é que não as possamos ouvir na íntegra.
Pela imagem poder-se-á pensar que Nuno Crato, o ministro da Educação, chama a atenção da sua colega de Governo para as declarações que esta acabou de fazer. Porém, é pouco provável que assim seja. Nuno Crato não é cavalheiro para passar um raspanete a Assunção, apesar de, se fosse esse o caso, ser inteiramente merecido.
Dizer que o que vai ser privatizado não vão ser as águas mas sim a sua gestão não passa de um expediente, de mau gosto, para justificar o que de errado se pretende fazer em relação a um bem escasso e que a todos pertence.
Pior porque Assunção Cristas veio afirmar, sem gaguejar, que o aumento previsto para o preço da água seria uma consequência dessa futura gestão privatizada e uma forma de racionalizar o consumo.
Bom, mas se for essa a perspectiva, a da racionalização, então o melhor será mesmo aumentar o preço dos medicamentos - as pessoas deixariam de consumi-los, morriam e poupava-se na factura do Minsitério da Saúde - , dos alimentos básicos - não comendo a malta deixava de comer, finava-se, resolvia-se o problema do desemprego -, da gasolina - com os carros parados não se importava petróleo e toda a gente andava a pé, da electricidade - os portugueses deixavam de ver televisão, acabavam-se as horas gastas em futebol e a ouvir o Rui Santos, o Eduardo Barroso e os outros todos -, e de todas as taxas cobradas pelo Estado, das mais insignificantes e menos concorridas às de que nenhum português pode prescindir, de maneira a que tudo fique racionalizado.
O ideal mesmo seria também cortar o salário à ministra e fechar o MAMAOT, já que dessa forma se punha termo à sua eventual pulsão consumista, cortava-se na despesa do ministério e seria possível contribuir para o cumprimento das metas definidas pela troika.
Enfim, admito que os mais recentes contactos de Assunção Cristas com grupos mais ligados à lavoura a tenham despertado para uma nova realidade e um estilo de lingugem e argumentação a que não estava habituada nos seus encontros com Paulo Portas ou Nuno Melo. E que, por vezes, seja mais difícil fazer passar a sua mensagem a interlocutores que não foram educados num citadino colégio de freiras. Só que isso não autoriza nem legitima o argumento que usou, nem lhe permite partir do princípio de que somos todos campónios.
Racionalizar o consumo da água ou de qualquer outro bem escasso é uma questão de educação, de cidadania, de civilização, como certamente Nuno Crato estará em melhores condições de lhe explicar. Isso ensina-se em casa e nas escolas. O argumento do aumento do preço é um argumento indigno de ser usado pela senhora ministra, um argumento bronco usado por alguém que se considera superior e que se dirige a um punhado de broncos.
Se a ministra Assunção Cristas e o governo de Passos Coelho querem avançar com a privatização do bem público água, que agora eufemisticamente a ministra diz ser apenas uma privatização da gestão, então que assumam a sua decisão sem rodeios. Mas façam-no com argumentos decentes. Nem todos somos estúpidos. 

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