13 de Setembro
E lá me meti no avião para o Porto, na jornada que me conduziu até Braga. É reconfortante ver a diversidade deste território tão pequeno onde os nossos antepassados se acantonaram, descobrir novos falares, novas formas de estar, outros sorrisos, paisagens tão diferentes.
Podia ter corrido melhor. Muito melhor. Mas não sei se estando sequestrado como está alguma vez será possível que corra melhor. Também não sei se o sentido da palavra renovação terá para todos o mesmo significado. Pelo que ouvi das intervenções e das conversas de bastidores, e, em especial, já que isso é decisivo para se fazer um juízo, a avaliar pelos nomes que saíram das listas de Seguro e Assis para os órgãos nacionais, renovação deve ser coisa para as calendas. E o sentido que eu, muitos outros militantes e portugueses lhe dão não é o mesmo que eles lhe dão. Tenho pena que assim seja.
Os actuais figurinos de escolha do secretário-geral e do congresso não fazem qualquer sentido. Escolher o líder em directas, dois meses antes do congresso, para de seguida entronizá-lo numa missa, ao mesmo tempo que se vota para os órgãos nacionais, é desmotivante. A eleição do secretário-geral deverá voltar a ser feita em congresso, através dos delegados, por voto secreto, e na sequência de um debate no próprio congresso entre os candidatos e os subscritores das moções que se apresentem. Na sexta-feira cada um dos candidatos à liderança apresentava as suas ideias. No sa´bado discutiam-se as moções e depois votava-se. Isso traria outra motivação à participação e seria mais estimulante para os portugueses que em casa acompanham estes conclaves. Bater-me-ei por isso. Um Congresso, como também me dizia o JMM, não pode ser uma missa, apesar de haver muitos lá dentro com jeito para sacristães. E para seminaristas, digo eu.
Também terá de ser encontrado um outro formato para as intervenções dos delegados. Três minutos não chegam para nada, em particular se as pessoas gastarem o primeiro minuto a saudar a presidente, o secretário-geral, a comissão organizadora e por aí fora, numa ladainha que somadas todas as intervenções deve representar ao final do dia umas três horas de encómios e salamaleques. Basta fazer as contas a cerca de cento e oitenta discursantes. Era preferível que se pré-fixasse um período para as intervenções e depois se aceitasse um número limitado de inscrições, por exemplo quarenta ou cinquenta. Se esse número fosse excedido haveria lugar a sorteio ou, então, já que as novas tecnologias estão na berra, só se aceitariam inscrições feitas por via electrónica até ao número limite admitido. Se possível com o sumário escrito da intervenção. Isto levaria a que só subisse à tribuna quem tem alguma coisa para dizer, ao contrário do que hoje acontece em que muitos há que vão lá só para dizer que lá estiveram, além de que se evitariam eventuais manobras de bastidores e os atropelos aos que querendo intervir e podendo, penso eu, intervir a horas de maior audiência, são atirados para períodos mortos ou, como aconteceu, para uma hora em que as moções já tinham sido votadas, depois de jantar, quando praticamente ninguém estava na sala. Aliás, que sentido faz continuarem as intervenções depois da votação das moções? Não foi o meu caso, que tive a sorte de poder intervir a horas decentes, durante a tarde de sábado, mas outros houve que bem se podem queixar. É certo que o tempo dado só me permitiu sumariar o que nos preocupa e quanto a isso talvez tenha conseguido lá chegar. Explicar porquê seria impossível. E poucos deviam estar interessados em conhecer as minhas razões.
Pode-se criticar a presidente do partido pela gestão que fez de alguns tempos, mas admiro-lhe a paciência, a educação e a simpatia, mesmo quando depois de ter pedido às pessoas que não se atrasassem no regresso depois das refeições, e de ter anunciado os nomes dos primeiros a serem chamados, se viu sozinha na mesa de honra esperando os atrasados e dando minutos para a sala se compor. Infelizmente, esta parece ser a regra em qualquer reunião mais alargada que se faça. Há sempre tempo para mais um café e dois dedos de conversa, os outros que esperem que a gente logo há-de aparecer. Falta de educação é o que é.
As negociações para a finalização das listas continuam a ser uma operação semi-clandestina e tenebrosa a que os líderes e os apparatchiks se dedicam. Não sei se nos outros partidos, posto que não os conheço, será assim. No meu não gosto que assim seja. Este ano, com as duas listas, o ideal era Seguro e Assis depois de as terem ordenado terem escolhido duas pessoas da sua confiança, uma por cada uma das listas, para que cortassem na lista do adversário as que lá não deviam figurar. Estou certo que dessa forma se faria uma verdadeira renovação, talvez mesmo uma limpeza, sendo então possível começar tudo de novo. Os compadres e as comadres é que eram capazes de me crucificar, mas isso seria o menos.
Dois bons discursos, a abrir e a fechar, uma excelente intervenção do Assis no sábado e mais uma ou duas notas, como as palavras do António Costa ou do Manuel dos Santos. Mas o fundamental ficou por dizer. Se o Congresso não é o lugar adequado para se discutir o que importa, então onde fazê-lo? Os debates de sexta-feira foram uma nota positiva, talvez mesmo a melhor, pela natureza dos temas e as intervenções a que deram lugar. Porém, pareceu-me que foi escasso e com pouco eco.
Espero que o Seguro seja capaz de mostrar rapidamente mais do que aquilo que foi prometido. Tirando um ou outro emplastro que vai sempre parar aos órgãos nacionais por amiguismo e compadrio - aí nunca há renovação - há lá gente capaz de pensar por si, de dar um contributo efectivo à mudança se lhe for dado espaço de intervenção.
Estas coisas são lentas, demasiado lentas para o meu gosto. Restar-me-á ter paciência, acreditar, se conseguir, esperar que o actual Governo dure todo o período da legislatura sem fazer disparates que antecipem eleições e nos coloquem num patamar ainda mais baixo do que aquele em que já estamos. Se tal acontecesse seria dantesco, uma tragédia para a nossa sobrevivência. Vamos ter esperança.
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