É uma história que podia dar um romance. Um romance longo, recheado de muitas histórias. De histórias de vida. De histórias de luta e de conquista. Uma por cada um dos trinta e três.
Também não sei, e tenho dificuldade em imaginar, eu que nem gosto de andar de metro e fujo de me meter em grutas, o que será estar enfiado num cubículo a 700 metros de profundidade, tendo por luz a escuridão, por espaço a voz e o cheiro dos companheiros de infortúnio, o seu suor, a sua dor, e amiúde um pequeno tubo por onde sobe e desce a esperança entre minúsculas embalagens de medicamentos, de vitaminas, e bocados de papel amarfanhado. Bocados de papel onde se vertem pequenas frases, pequenas palavras. Letras que trazem em si a magia, o sonho do reencontro.
Cada segundo que passa é uma conquista. Cada minuto vivido é um tiro no infortúnio. Cada hora respirada é uma morteirada na desgraça. E ao fim do dia que é sempre noite ainda se arranjam forças para sorrir para uma câmara, dizer uma larachas e cantar o hino. Eles, os desgraçados, o sal da terra, são a final os primeiros porta-vozes da esperança para quem à superfície, na dor da sua ausência, tem a sorte de ver todos os dias o raiar da aurora e se pode aquecer com os primeiros raios de sol.
Para quem, como eu, passa o dia sentado a uma secretária, sentindo o conforto do couro da cadeira em que se senta, e ainda se dá ao luxo de praguejar contra o ruído do ar condicionado, ou para aqueles que vão para a televisão e os jornais exigir que os milhões que saíram de um banco na Suíça voltem para uma conta onde estão mais uns quantos milhões, que servirão para lhe pagar as gravatas da Hermès, não devia ser fácil sair à rua enquanto aqueles homens ali estiverem.
Os dramas que acontecem longe são como um mau romance que termina quando se arruma o livro numa estante sem conhecer o final do primeiro capítulo. Para sempre. Até que as traças o devorem.
Mineiro não é apenas sinónimo de nome "di jogador di futibol". Ou de natural de Minas Gerais. Também é profissão de alguns homens. Campo de batalha. E, às vezes, uma palavra de estímulo. De conforto. Um grito contra a amargura. Amanhã uma promessa de casamento cumprido. Uma aposta na vida.
Estes homens são a exaltação da condição humana. A prova de que vale a pena.
Não sei qual vai ser o desfecho da história. Quero que seja feliz. E que Deus, ou lá quem for, qualquer que seja o nome, os proteja. Eles merecem.
Os meus heróis têm sempre nome. E um rosto. Quero que sejam felizes.