quinta-feira, abril 15, 2010

REFÉNS DAS PRESIDENCIAIS

As notícias desencontradas, como esta, que todos os dias inundam as redacções dos jornais sobre o eventual apoio do PS a Manuel Alegre já fedem e começam a dar do PS, dos seus dirigentes e dos seus múltiplos, e alguns putativos, porta-vozes a imagem de um partido refém.
É evidente que a situação económica e financeira do país aconselhava alguma cautela no "ataque" às presidenciais. O atraso na preparação do Orçamento, as negociações relativas ao PEC e a necessidade de estabilização parlamentar, aconselhavam moderação no discurso e em especial a contenção dos apparatchiks.
Manuel Alegre, como cidadão estimado e respeitado por portugueses de todos os quadrantes, entendeu iniciar movimentações junto dos seus apoiantes e avançar com a sua candidatura presidencial. Outros também o fizeram sem que por isso fossem criticados. Não há aí nada de mal, de grave, de ilegal ou de ilegítimo. Alegre não sofre de qualquer capitis deminutio que o impeça de ter vida pública, de se pronunciar sobre os temas de actualidade quando muito bem entende ou de apresentar a sua candidatura presidencial no momento que considere mais oportuno.
De igual modo, o facto de haver quem se precipite no apoio a um candidato para daí retirar dividendos políticos imediatos, cavalgando a onda do descontentamento enquanto pode, tirando partido da ambiguidade do discurso e da indecisão política de terceiros, pode ser criticável, mas é algo com que em democracia e em política se tem de contar.
Tenho ouvido dizer que cada um tem o seu tempo e que o tempo dos candidatos não é necessariamente o tempo dos partidos. Até aí estamos todos de acordo. Cada um gere o seu tempo como melhor lhe convém. Convirá também é que o faça, enquanto dirigente político e responsável partidário, de acordo não com a suas conveniências pessoais mas em função do interesse nacional e do interesse do partido, que não sendo obrigatoriamente coincidentes aconselham a que seja dada prevalência ao primeiro em todas as circunstâncias.
A multiplicação de intervenções contraditórias sobre as presidenciais, a insistência e o à-vontade com que alguns dirigentes menores, sem currículo e sem história, se têm revezado nas críticas a um eventual apoio à candidatura de Manuel Alegre, e as ignóbeis tentativas de silenciamento e refreamento nas manifestações de apoio ao candidato por parte de um núcleo conhecido da elite dirigente do PS, que não esconde a soberba nem a diletância, tão querida dos medíocres, quando critica a agenda de Manuel Alegre, tentando condicionar o apoio do PS ao seu candidato natural; o que vão fazendo com ameaças veladas de futuro não apoio - como se o seu eventual apoio enobrecesse o PS, alguém ou alguma causa -, indicam que o tempo para a direcção do partido se pronunciar está a chegar ao fim.
A chegar ao fim, bem entendido, se essa mesma direcção ainda quiser evitar uma nova dêbacle eleitoral, uma humilhação de cariz idêntico à que, há quatro anos, quando alheia ao país e ao partido, promoveu a candidatura de Mário Soares. Se for este o sentido do silêncio da direcção do partido então fica compreendido qual o seu tempo e qual a razão para que militantes como José Lello, Capoulas Santos ou Renato Sampaio se permitam fazer afirmações desconsiderantes e que roçam o insulto ao candidato e à inteligência dos militantes, sem que ninguém com responsabilidades, alguém que não dependa do "aparelho" e das gentes do "aparelho" para ter um lugar em S. Bento, à frente de uma concelhia ou de um instituto público para poder ser reconhecido na rua, se pronuncie.
Não será por quererem encostar Manuel Alegre ao Bloco de Esquerda que este deixará de ter a estatura e a dimensão que tem. Ou que o PS deixará de ser o partido que sempre foi, ainda que por circunstâncias conjunturais possa dar a ideia de estar refém das presidenciais e sob sequestro dos seus apparatchiks, sem que a sua classe dirigente mostre ter a força e a coragem, porque é disso mesmo que se trata, de acabar com a vozearia insensata, que até nos assuntos mais prementes se manifesta, em razão de uma tremenda falta de decisão e inabilidade na condução dos processos mais sensíveis, que, em rigor, só serve para desprestigiar o partido, dar cartas às oposições, desvalorizar as presidenciais e enaltecer o papel do actual Presidente da República.
A miopia em política paga-se caro. E com juros muito altos. E normalmente saem ambos a perder: o país e o partido.