(Reuters)
A dimensão da catástrofe vivida a noite passada em Port-au-Prince, cuja imagem menos obscena é a que encima este post (mais imagens aqui), obriga-nos apenas a perguntar porquê? O Haiti é uma das nações mais pobres do mundo, onde uma violência extrema tem coexistido com a miséria, com a pobreza, com o roubo descarado dos recursos públicos, com a tortura, com a humilhação, com a corrupção, com o terrorismo de Estado. E, no entanto, no Haiti há gente. Gente que apenas aspira a um pouco de paz e de pão, gente para quem a satisfação das suas necessidades básicas já seria um poderoso tónico à sobrevivência, ao reencontro com os da mesma espécie que vivem na sociedade da abundância e do desperdício. Provavelmente poderia ter acontecido em qualquer outro local. Mas não, foi ali que se abriu um fenda, foi ali no meio de milhões de pobres, miseráveis e desgraçados que a terra resolveu tremer. Quando uma catástrofe como a que se abateu sobre o Haiti acontece há algo que nos ultrapassa e apela ao sobrenatural. Dir-se-ia que Deus se ausentou e deixou aquela gente entregue à sua sorte. Já não bastava o saque dos Duvalier, nem todas as réplicas de "Papa Doc" e "Bébé Doc" que se lhe seguiram. Ainda faltava mais alguma coisa. Faltava o golpe de misericórdia. Porquê? Que fizeram eles para merecer tal destino? Porquê?