terça-feira, dezembro 22, 2009

DEVIA SER NATAL

(foto Corriere della Sera)

As fitas plásticas vermelhas e brancas certamente que estão lá para evitarem males maiores. Para o desgraçado que procura um local para se abrigar e aconchegar com a tralha que o acompanha, será apenas mais um azar. Nestes dias de Inverno, intermináveis, frios e irremediavelmente tristes, não há nada de mais terrível e deprimente do que saber que por esse mundo fora há milhões na situação do fotografado. Não há calor, não há palavras, não há Natal que chegue para confortar quem se vê nessa situação. E quando pensamos que a fotografia foi tirada num jardim dessa bela e rica cidade de Milão, mais difícil se torna aceitar que ano após ano o Natal se repita entre iguarias e presentes caros. O Natal é para mim, desde que tomei consciência de mim, um momento de grande solidão e reflexão. Também um momento de partilha e de apelo. Este ano assim será de novo. Se esperavam ver aqui um Pai Natal colorido, anafado e sorridente, lamento desiludir-vos. Há momentos em que basta parar um pouco e olhar para o que está à nossa volta. Feliz Natal.

Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime: quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quer quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.

(Ricardo Reis)