1 - Certamente que alguém já o disse ou escreveu. Muitos terão visto. Mas creio que nunca será demais sublinhar a presença e a postura assumida por Manuela Ferreira Leite na tomada de posse do XVIII Governo Constitucional (que tomou posse num dia cuja soma dá 8 e onde 8 ministros experientes se juntaram a outros 8 mais novatos, sublinhando os muitos e auspiciosos oitos que rodearam o seu aparecimento num ano 9, como diriam os meus amigos chineses). Ao contrário de outros dirigentes, cuja ausência não passou despercebida, a actual líder do PSD fez questão de estar presente e de deixar comentários adequados à ocasião. A democracia é um exercício constante, a procura de um equilíbrio muitas vezes difícil de manter no vaivém dos debates e da guerrilha política, mas há alturas em que é fundamental que venham à superfície os valores que distinguem um exercício puramente formal de uma verdadeira democracia. O sucesso de um governo saído de eleições livres e democráticas virado para a resolução dos problemas do país será também o sucesso do país. Ferreira Leite percebeu-o e fez questão de assinalá-lo. Outros, mesmo do seu próprio partido, têm mais dificuldade em assimilá-lo.
2 - A primeira e mais comum reacção da maior parte dos comentadores políticos à composição do novo Governo foi a de realçar a experiência e o bom desempenho dos que transitaram, questionando as novas escolhas. Antes de os verem fazer qualquer coisa, inclementes, apontaram aos novos ministros a pecha da falta de experiência política, a falta de "peso político", os perfis "demasiado técnicos", a inexperiência governativa. Se fossem todos velhos e experientes correligionários do partido, certamente que esses mesmos críticos não se cansariam de destacar a falta de renovação. Como entrou gente nova, as cassandras vieram logo falar na falta de experiência. Como se o exercício da política não fosse ele próprio um exercício permanente de intervenção cívica e de aprendizagem, de gestão e execução de um programa, e um governo não fosse um conjunto de pessoas com diferentes origens, formações e apetências, trabalhando para um objectivo comum, partilhando saberes e cultivando a entreajuda entre os seus membros.
3 - A escolha de Pierluigi Bersani para a liderança do Partido Democrático italiano, em especial depois de um inédito processo de escolha que mobilizou mais de 2 milhões de italianos, entre militantes, simples simpatizantes e estrangeiros residentes em Itália, dando-lhe uma confortável vitória, pode representar o vento de mudança e de esperança de que a Europa necessita. A forma como a sua eleição ocorreu é uma achega importante para a renovação da participação política e uma efectiva escolha dos melhores fora dos estreitos e usurpadores canais do caciquismo partidário.