terça-feira, agosto 11, 2009

DANIELE MANIN

Há acções que perdem toda a grandeza e sentido quando se quer atribuir-se-lhes o sentido que elas não têm, nem seria desejável que tivessem. Tenho pensado na acção "insurreccional" do 31 da Armada, ontem levada a cabo na Câmara Municipal de Lisboa, e aquilo que ainda admiti que pudesse ser uma coisa com piada está-se a transformar numa opereta de mau gosto e com final triste. Ao ouvir hoje uma curta entrevista de um dos mentores da acção só me lembrei de Daniele Manin, o advogado veneziano, meio judaico e com apelido de doge, que quis restabelecer a grandeza da cidade-estado de Veneza, expulsando os austríacos e proclamando a república. Morris fala-nos dele e recorda-nos que o presidente da república revolucionária tudo o que conseguiu com a sua acção foi que Veneza só voltasse a ser livre em 1866, quando Bismarck a devolveu, muito depois de toda a Itália, com excepção de Roma, ter sido libertada. Ele, Manin, acabou a dar lições de italiano a meninas; Veneza foi bombardeada incessantemente pelos austríacos e perdeu identidade e liberdade. Duvido que a monarquia tenha ficado mais rica com a acção do Movimento 31 da Armada. Seja para fazer humor ou para organizar um "golpe de estado" é preciso saber. As boas intenções não chegam.