quinta-feira, julho 30, 2009

GESTÃO À VISTA DA COSTA

Estamos a menos de dois meses das eleições legislativas, facto de que muitos, certamente, ainda não se deram conta. O estio e as suas elevadas temperaturas ajudam as pessoas a esquecer a realidade. Mesmo quando se fazem férias "cá dentro", o cansaço contribui para uma certa letargia, para um certo desprendimento. A crise trouxe consigo a dolência e torna-se demasiado pesado ouvir debates, ler programas eleitorais e acompanhar os sound bytes. Depois, casos como o do Avastin e dos doentes do Santa Maria acentuam o desinteresse pelo que se vai ouvindo. Talvez por isso mesmo é que o PSD tarde em apresentar o seu programa eleitoral. Pode ser que também faça parte da estratégia, mas para um partido que está na oposição e que há anos se prepara para ir a votos e tentar destronar o PS de José Sócrates, o normal era que tivesse posto cá fora antes de férias o seu programa. Mas não. Nada disso aconteceu. Em vez de apresentar um programa, o PSD desdobra-se em iniciativas avulsas, preferindo lançar frases inconsequentes, sem que se veja alguma coisa de consistente. Sabendo-se que Agosto é mês de férias, ou, pelo menos, que é aquele em que mais gente está fora dos seus locais habituais e pouco virada para a discussão política; sabendo-se, igualmente, que Agosto é o mês em que o futebol começa a mexer e que a seguir virá Setembro e a preparação do regresso às aulas para a maior parte das famílias; pergunta-se quando é que o PSD pretende tornar conhecido o seu programa e as ideias que defende? Quando estará a pensar debatê-las com os portugueses e os seus concorrentes? A "estratégia" que até agora tem sido seguida pelo PSD, onde se mistura o "rasganço" de tudo o que está para trás com o apoio ao carnaval jardinista, a crítica à coligação do PS em Lisboa ao mesmo tempo que se fazem mais de 60 coligações no resto do país, o elogio da política social do Governo e a defesa de uma menor tributação, sem que se explique ao país as contradições e a forma como tudo isso irá ser gerido por um hipotético futuro governo do PSD, demonstra bem que para o PSD é mais interessante manter a pressão mediática sem qualquer programa do que apresentar um programa e discuti-lo a tempo e horas. Um programa não rende votos. O carnaval mediático pode render. A poncha pode ser mais compensadora do que o vinho do porto. Sem propostas e sem ideias que se dêem a conhecer, o estilo Ferreira Leite começa a ser cada vez mais parecido ao estilo Santana Lopes. Aquilo que aparentemente os separava foi, afinal, aquilo que mais os aproximou: a gestão à vista da costa. Da costa, é certo, mas também do Costa. Do António, evidentemente, não vá o diabo tecê-las.