Várias pessoas amigas têm-me feito insistentemente chegar um convite, assinado pelo Presidente da Fundação Jorge Álvares, que reza o seguinte: "Neste ano de 2009 em que se assinala o 10º aniversário da transferência da Administração de Macau para a República Popular da China, no meu nome, no dos ex-Governadores Garcia Leandro, Melo Egídio, Almeida e Costa, Pinto Machado, Carlos Melancia e Rocha Vieira - e no da Fundação Jorge Álvares, venho convidá-lo a participar num Encontro de Macau, um almoço de convívio alargado das pessoas que nasceram, viveram ou trabalharam em Macau durante o período da Administração Portuguesa. Terá lugar já no dia 27 de Junho, um sábado, pelas 13H00, em Mafra. Queremos simultaneamente pedir-lhe que divulgue esta iniciativa pela Família que o acompanhou em Macau e pelos Amigos que lá fez. E, como temos que saber com quantas pessoas contamos, apenas lhe pedimos que se inscreva através do telefone 21 315 32 82, do fax 21 315 19 44, ou ainda do e-mail fundacao@jorgealvares.com".
É claro que quem manda um convite destes fá-lo por amizade e sem segundas intenções. Mas quem acompanhou os últimos anos da presença portuguesa em Macau, assistindo ao que eu assisti e escrevendo o que então escrevi e mantenho; tendo, por fim, acompanhado o parto da Fundação Jorge Álvares e o triste espectáculo que rodeou a forma quase sinistra como Rocha Vieira promoveu a sua constituição, escondendo-a das novas autoridades de Macau e do então Presidente da República Jorge Sampaio, não poderia certamente contar com a minha presença. Há espectáculos nos quais me recuso a participar. Por coerência com o meu passado e com aquilo que sempre defendi. Também por convicção. E com mais razão o faço se ainda por cima esses espectáculos são pagos ou comparticipados por uma fundação constituída com dinheiros públicos e que só serviu para deslustrar e envergonhar o nome de Portugal. Por mais anos que passem, há coisas que a memória não apaga. Retomando uma velha ideia de Malraux, um homem não se define por aquilo que é ou foi, mas por aquilo que os outros ainda podem esperar dele. Pode ser que esteja errado, que seja só convencimento, mas acredito que os meus amigos e os cidadãos de Macau que durante anos me acolheram e leram, ainda esperam de mim mais alguma coisa do que ver-me a almoçar ou a jantar com os senhores da Fundação Jorge Álvares com o pretexto de rever os amigos. Não critico quem vai, mas creio que Macau merecia mais dos seus ex-governadores. Fica assim explicada, para quem pensava que 10 anos é muito tempo, a razão da minha ausência.