quarta-feira, abril 22, 2009

NÃO HAVIA NECESSIDADE

(foto DN)

Confesso que fiquei desiludido com a entrevista de ontem de José Sócrates à RTP. Se é evidente que Judite de Sousa e José Alberto Carvalho não estiveram à altura do entrevistado, deixando-se enredar em fait-divers e num discurso que em nada contribui para o esclarecimento da opinião pública, permitindo o repisar e arrastar de temas requentados e sem interesse actual, também não é menos seguro que o primeiro-ministro adoptou um estilo que podendo ser o seu não é o registo adequado, nem de um primeiro-ministro nem de quem quer ganhar as três eleições que aí vêm. José Sócrates adoptou o "estilo Câncio", mostrando-se desnecessariamente quezilento e com agressividade em excesso em relação aos entrevistadores. Provavelmente com outros teria arriscado levar uma ou duas respostas politicamente incorrectas, mas com aqueles que estavam de serviço escapou. O ataque à TVI pareceu-me surreal, independentemente das razões, e são muitas, que lhe assistem. E não se vê que tenha marcado pontos na clarificação do Freeport. Todos já sabiam como começou, agora o importante é saber como e quando é que vai acabar. No que diz respeito às relações com o Presidente da República é escusado fazer dos outros tontos. Num regime semi-presidencial como é o nosso, fazendo fé na lição de Duverger, é natural que haja pontos de divergência e até mesmo de ruptura. A águia não tem de ter as duas cabeças sempre a olhar para o mesmo lado. Cada cabeça tem a sua perspectiva. Iludir artificialmente as diferenças para preservação de um relacionamento institucional periclitante é que me parece escusado. Enfim, uma oportunidade perdida para segurar o seu eleitorado e demarcar-se da barafunda reinante. Esta só serve os interesses da oposição. Os seus assessores ainda não se devem ter apercebido disso. É lá com eles.